A grande crise contemporânea presta-se a muitas interpretações. A especulação imobiliária e os excessos dos financistas americanos são apenas suas faces mais visíveis. A demagogia e a irresponsabilidade financeira de uma obsoleta social-democracia europeia estão ainda camufladas pela crise do euro. Mas a onda de empréstimos inadequados que foi disparada pela adoção da moeda continental, derrubando riscos de crédito soberanos sem distinção de fundamentos fiscais, foi apenas a etapa final de uma longa história de abusos orçamentários e finanças públicas insustentáveis.
Outra face oculta da crise é uma atuação disfuncional de importantes bancos centrais por mais de uma década, indiferentes quanto aos possíveis efeitos sobre os demais países. O Federal Reserve dos americanos e o Banco Central da China manipulam artificialmente preços críticos para a economia mundial, como suas taxas de juros e de câmbio, de olho exclusivamente na criação de empregos domésticos. Os americanos criam bolhas financeiras em série, e os chineses roubam empregos em todo o mundo. Quando estouram as bolhas e surge o desemprego em massa, desaparecem as autoridades responsáveis — e a culpa é dos mercados.
Outra dimensão pouco explorada da crise são seus impactos assimétricos e perversos sobre as diferentes camadas da população. Grupos de interesses financeiros capturam e dirigem as autoridades nas operações sistêmicas de salvamento. No caso americano, as transferências de recursos públicos para o sistema financeiro em tempos de crise, a pretexto de salvar as economias de mercado de seus próprios excessos, contrastam com a desatenção às execuções de hipotecas de imóveis para classes de baixa renda e à incapacidade de pagamentos de empréstimos tomados por estudantes. Já no caso europeu, a explosão da taxa de desemprego entre os jovens revela a crueldade e a inadequação de regimes trabalhistas e previdenciários que refletem ultrapassados interesses corporativistas.
Outra formidável deformação, pela enxurrada de liquidez promovida por bancos centrais de países desenvolvidos, é a percepção súbita de enriquecimento nos países emergentes. A explosão nos preços de produtos primários e uma avalanche de recursos financeiros em resposta aos diferenciais de juros e de crescimento valorizam suas moedas, embalando ilusões
de riqueza enquanto destroem a competitividade de suas indústrias.
Fonte: O Globo, 27/02/2012
O que prevalece no mundo hoje é a picaretagem, a mediocridade e a falta de claridade moral. E não só dos políticos….
No caso brasileiro, seriam as multinacionais aqui instaladas? Ou aquelas que importam quase que 100% de peças e componentes , e que montam aqui o que vendem no mercado internacional com financiamentos aos compradores via financamentos de nossos bancos oficiais?