As semelhanças de 2012 com os terríveis desajustes da economia mundial ocorridos em 2008 não param de se acumular diante dos nossos olhos.
Os mercados especulativos, no entanto, têm reagido como se não tivessem tal conhecimento prévio.
Os riscos de natureza sistêmica não param de crescer. Mas as bolsas e as principais commodities realizaram a melhor recuperação de cotações desde 2010, quando o Fed (banco central americano) entrou para valer suprindo liquidez, com mais um grande afrouxamento monetário.
Desta vez, quem entra em campo para prover dinheiro barato a rodo é o Banco Central Europeu (BCE), ao conduzir, anteontem, uma mega-operação de € 529,5 bilhões em compras de papéis de cerca de 800 bancos da região, com prazo de três anos, a uma taxa de 1% ao ano.
O BCE já havia realizado uma injeção inicial, no apagar das luzes de 2011, de € 489 bilhões. Naquela, cerca de 500 bancos participaram, vendendo papéis. Uma crítica velada ecoou, ontem mesmo, contra a nova operação do BCE, vinda do sócio principal do “clube monetário” europeu, o Bundesbank alemão.
Os alemães não gostaram nada dos riscos tomados pelo BCE, e largaram uma carta a Mario Draghi, em termos severos, falando da “perda de reputação” do BCE como um risco incorrido pela instituição que vela pela estabilidade da moeda europeia.
O embate ideológico dentro da estrutura de poder na região é evidente, entre “linhas-duras” e “socorristas”.
Estes entendem ser urgente o socorro que for preciso aos bancos para prevenir o risco sistêmico de uma suspensão geral de créditos bancários às atividades produtivas na região, provocando um pânico recessivo.
Contudo, os “linha-duras” enxergam o megasocorro como mero adiamento dos ajustes inevitáveis no sistema, empurrando o problema com a barriga, enquanto a liquidez de curto prazo, passeando na tesouraria dos bancos, apenas serve como munição para especulação nos mercados de risco e de derivativos.
De fato, o episódio da crise financeira americana de 2008 se desenrola de novo, agora na Europa, com contornos bastante semelhantes.
Enquanto as autoridades americanas do então governo Bush negavam de pés juntos o agravamento do problema, a grande corretora Bear Stearns era resgatada em março de 2008, numa operação que começou com uns poucos bilhões de dólares, para ir crescendo sucessivamente.
Em maio de 2008, o secretário do Tesouro veio ao mercado para dizer que “o pior da crise ficou para trás”.
As autoridades europeias reproduzem agora o mesmo tom em relação à bola de neve dos débitos europeus absorvidos pelo BCE.
As autoridades, como em 2008, tentam ganhar tempo, na esperança de melhoria das condições de demanda em outras regiões do globo, como forma de estimular a máquina produtiva europeia.
Um dos problemas, contudo, do cenário otimista é o preço crescente das matérias-primas, especialmente o petróleo, cuja especulação eleva a cotação na mesma trajetória altista insustentável de 2008, quando o barril chegou muito perto de US$150, antes de despencar das nuvens ao final daquele ano.
Neste cenário de jogo de espelhos, entre 2008 e 2012, um desfecho igualmente negativo tem boas chances de acontecer. O Brasil, como em 2008, ainda aposta na “marolinha” e evita enfrentar suas ineficiências.
Será o grande teste da presidente Dilma. Mas o país precisa acordar e abrir os olhos.
Fonte: Brasil Econômico, 02/03/2012
Parece-me que li alguém se queixando do “tsunami” . Lula marolinha e Dilma tsunami. !
A diferença entre Lula e Dilma aqui é cosmética. Dilma fala em tsunami cambial. Segundo ela isso derruba o dólar frente ao real, o que é ruim para o setor exportador (leia-se commodities) e afeta negativamente a indústria. O problema é que a causa real do problema: o custo Brasil (impostos, logística absurda, trabalho caro, alto déficit público, corrupção, falta de liberdade, etc.), nesse ninguém toca.