Que os juros brasileiros são altos e que o governo dá a impressão de ser refém de uma taxa que sempre aparenta ser mais alta do que poderia ser, todo mundo está cansado de saber.
Da mesma forma, a afirmação de que os juros por aqui estão entre os mais elevados do mundo já não surpreende ninguém.
O que causa espanto mesmo é saber quem são os outros governos que, por diferentes razões, pagam mais do que o Brasil pelos títulos de sua dívida interna com prazo de 10 anos.
São eles: Grécia, Portugal e Paquistão, conforme mostra a reportagem de Ana Paula Ribeiro na página 38 da edição de hoje do “Brasil Econômico”.
Os dois primeiros, como se sabe, atravessam o inferno astral de suas vidas financeiras – e é mais do que razoável que o investidor queira um retorno mais elevado quando o emissor pode ter problemas para honrar os títulos que joga no mercado.
O terceiro é um país envolvido num conflito que parece não ter fim e mostra-se incapaz de inspirar confiança em quem quer que seja.
Em seguida vem o Brasil, que, ao contrário dos outros três, atrai capitais de todas as partes, é apontado como uma das economias mais promissoras do mundo e mesmo assim oferece juros estratosféricos por seus títulos.
Há algo de estranho nisso: por que um país que vai bem paga juros semelhantes aos de países que vão mal?
Na verdade, não existe razão que justifique o fato. Uma redução dos juros num ritmo mais firme do que vem sendo conduzido pelo Banco Central teria, à primeira vista, o benefício de reduzir as obrigações do governo com o pagamento dos juros e, de quebra, afastar parte dos investidores internacionais que procuram tirar proveito das taxas generosas pagas por aqui.
Com isso, a pressão sobre o câmbio se reduziria, a indústria recuperaria parte da competitividade e o país, finalmente, poderia se preocupar em aproveitar o bom momento que está vivendo (e não em oferecer vantagens aos investidores).
Se tudo é tão simples, se a mera redução na taxa seria capaz de gerar esses e mais alguns benefícios, a pergunta é: por que o Banco Central não reduz a taxa num ritmo mais acelerado?
Existem, com toda certeza, diversas explicações para o fato. A mais recorrente delas diz respeito ao desarranjo que uma redução súbita dos juros provocaria sobre a caderneta de poupança.
Seja como for, o Brasil precisa correr o risco e enfrentar o problema antes que seja tarde. Com a taxa atual, que garante um rendimento de 12,5% ao ano sobre os títulos de 10 anos, o governo cria um obstáculo para a solução de problemas em que ele é o principal interessado em resolver.
Pouquíssimos negócios produtivos são capazes de garantir ao acionista um lucro real superior a 10%. Portanto, diante da opção de se colocar dinheiro num negócio – com todos os riscos que essa decisão envolve – ou de adquirir títulos que garantem mais do que isso, muita gente acaba escolhendo o segundo caminho.
Manter os juros no nível dos que são cobrados no Brasil é, no final das contas, um tiro no pé. O país vive, de fato, um momento muito bom. Mas que pode ser melhor caso o governo encare com mais firmeza a questão dos juros.
A cada dia que passa, percebe-se com mais clareza que mesmo a taxa de 9% ao ano, que deve ser aprovada na próxima reunião do Copom, é alta. Muito alta.
Fonte: Brasil Econômico, 20/03/2012
Parabéns, Ricardo, pela coragem de defender a mais rápida queda dos juros, posição não compartilhada pelos colegas liberais. Penso que os juros não caem mais porque o Banco Central ainda está parcialmente ligado ao mercado financeiro.