Recente pesquisa sobre Cidades Competitivas (“Hot Spots”), encomendada ao “The Economist”, aponta a “Big Apple” como a cidade mais dinâmica do mundo, passando Londres, segunda do ranking, por um ponto de diferença. Até aí, nada.
Minha reação à pesquisa foi virando surpresa desagradável quando não vi São Paulo figurar sequer entre as primeiras 60 da lista de 120 cidades globais estudadas. Nem São Paulo, nem Rio de Janeiro, obviamente. A polêmica Buenos Aires conseguiu entrar em 60º lugar.
São Paulo emplacou a 62ª posição e o Rio amargou um sofrível 76º, mesmo com perspectiva do Rio+20, Copa do Mundo e Olimpíada. Ainda assim ficou atrás de Santiago (68ª) e México (71ª). Será que nossas cidades estão mais para buracos urbanos do que para lugares atraentes, num planeta cada vez mais competitivo?
Às vésperas de nova disputa pelas prefeituras nas cidades brasileiras – que promete ser “mais do mesmo”, em termos da qualidade do debate sobre o futuro das nossas maiores cidades -, o resultado do estudo serve como boa e oportuna provocação aos candidatos e formadores de opinião no Brasil, mesmo que eu duvide um pouco da precisão do sistema de pontuação empregado na pesquisa.
Nossas metrópoles foram prejudicadas, provavelmente, pela ponderação nos 31 itens pelos quais se avaliou a competitividade. Um peso alto foi dado ao tema da “força econômica”, mensurada, entre outros itens, pela taxa de crescimento do PIB.
Ora, o Brasil perde em qualquer ranking onde a geração de riquezas, ou seja, “produção”, entre com peso. Viramos, definitivamente, um país de crescimento emperrado e isso ficou, mais uma vez, patente no resultado lamentável do PIB brasileiro em 2011, de magros 2,7%. Nossas grandes cidades não são exceção à regra brasileira do baixo crescimento. Estamos mal, é preciso reconhecer.
É preciso total determinação, em nível coletivo, e um planejamento explícito e adequado para melhorar. Não temos nenhum dos dois, quer em nível nacional ou local. Fazemos, como regra, administração pública de crises; não temos planejamento sistemático e cobrado pela sociedade.
Os sistemas tributários nacional e local funcionam, no Brasil, como bombas de sucção da renda gerada no setor privado, roubando preciosos recursos privados para financiar desperdícios estatais e gastos estéreis, inúteis para a melhoria da competitividade do conjunto das cidades ou do país. Se servir de consolo, a pesquisa mostra a péssima posição das cidades latino-americanas e africanas, sem qualquer exceção.
Interessante notar a declaração de Michael Bloomberg, prefeito de Nova York: “…com mais de metade da população mundial vivendo em cidades – gerando cerca de 80% do PIB mundial – e com as firmas formulando suas estratégias em torno de mercados urbanos, não podemos nos dar ao luxo de relegar o futuro (das cidades) aos governos nacionais”.
Em bom português, cada cidade tem de se virar para ser ou se tornar mais competitiva. Concluindo: “Talentos atraem capitais de modo mais eficaz e consistente do que capital atrai talento”, afirmou Bloomberg. E como estamos na atração de talentos mundiais para cá? E como estamos na valorização dos nossos próprios talentos? A resposta é dolorosa…
Fonte: Brasil Econômico, 30/03/2012
Muito bom o artigo. As leis trabalhistas brasileiras tambe’m tiram muito da competitividade. Ha’ outros tantos problemas. E’ insolu’vel a situaca~o, ainda vai piorar antes de melhorar. Me parece evidente que e’ apenas quest~ao de tempo para o Brasil passar por uma crise que sera’ uma mistura das crises financeiras na Gre’cia e EUA. A competitividade das cidades depende da competitividade dos sistemas que alicersam a naca~o, mas estes esta~o compromissados com a manutenca~o do status quo.