Tenho visitado a Argentina profissionalmente desde a década 1970. Antes de conhecê-la como país, conheci notáveis inteligências de lá. A nação argentina é, queiramos ou não, nosso maior e mais afetivo vizinho. Por isso, devemos nos sentir à vontade para elogiar ou debater o que lá se passa.
É como se fosse nosso próprio país, tamanhas são as repercussões, positivas ou negativas no Brasil, de tudo que acontece ao sul do Rio de la Plata.
O mesmo direito íntimo de vizinhança, parceria e comunidade têm os argentinos de nos cobrar o que anda mal por aqui. Menos futebol, é claro. Nessa toada de crítica fraternal é que devemos abordar o affaire Repsol/YPF.
O que mais me assusta no desdobramento imediato do anúncio da renacionalização da YPF é o pouco barulho feito pelas oposições lá mesmo, em solo argentino.
Parece que a bravata nacionalista continua sendo um elemento muito forte no sentimento do cidadão local, a ponto de neutralizar a vocalização de qualquer reparo, muito menos protesto, contra a medida anunciada.
Teria o governo boas razões para intervir usando este expediente? Razões sempre existem nas relações econômicas, de um lado e de outro, e quando se trata de petróleo, as motivações passam a ser bilionárias.
A questão é outra: é o radicalismo da expropriação de uma empresa que, um dia, lá atrás, foi recebida como investidora importante e oportuna, quando faltava dinheiro no caixa do governo.
A encampação de uma concessão ou a expropriação pura e simples de um bloco de ações só acontece, no estado de direito, quando e após todas as demais medidas judiciais intermediárias já foram tentadas.
E quando razões de sobra já se acumulam aos olhos da opinião pública, inclusive da opinião internacional. Esse rito não foi respeitado.Resta avaliar a razão prática da medida.
A Argentina terá mais oferta de petróleo no médio prazo, como protesta o governo, ao se substituir à Repsol, que não estaria investindo o suficiente?
É altamente duvidoso que a estatização, em si, seja resposta, num setor que exige bilhões em recursos, de que o novo sócio majoritário não dispõe. Menos recursos de empréstimos terá a Argentina como país, daqui para frente, inclusive de empresários brasileiros, que repudiam o ato como algo estapafúrdio.
Mas não só a elite econômica brasileira estaria perplexa. Os sites de comentaristas econômicos mostram, nas últimas horas, as opiniões de brasileiros comuns cuja desaprovação à medida excede o apoio em 4 para 1. Mais um sintoma de que, fora da Argentina, o ato radical da presidente Kirchner, não teria sido bem assimilado.
Será que essa moda pega por aqui? Os brasileiros não consideram a Argentina de hoje um bom exemplo a ser imitado. O risco de uma contaminação direta é remoto, para não dizer nulo.
Porém, as sequelas indiretas do radicalismo portenho não tardarão a aparecer. Para um investidor estrangeiro menos atento – e são a maioria – a capital do Brasil ainda é, ou poderia ser, Buenos Aires.
O mínimo que se dirá lá fora, é que o Brasil, por enquanto, não representa o mesmo risco político e, assim, tem que ser avaliado em separado. Essa distinção nos ajuda, mas não resolve.
Vizinhos influem na reputação de uma vizinhança. E vizinhos imprevisíveis são sempre um fator de grave risco. Na vizinhança do Brasil, o mau exemplo parece prosperar com notável rapidez. É o pedágio argentino sobre nós.
Fonte: Brasil Econômico, 20/04/2012
E, em se falando de vizinhança, não podemos esquecer da tomada com força militares da planta da Petrobrás pela “vizinha” Bolívia! Quanto ao cocalero Evo Morales, o assunto da “expropriação”. ” manu militari” o assunto desapareceu na névoa da diplomacia petista!
O problema Espenha/Repsol tem seu palco na União Europeia!
Já, aqui em bananais…