Acabo de participar da Rio+20. Foi uma experiência inesquecível. Participei como palestrante em dois eventos e ainda assisti a debates e sessões plenárias. Não compartilho do pessimismo frente aos resultados da conferência.
Tampouco do otimismo exagerado de alguns, que consideram o resultado “estupendo”, como o negociador-chefe do Brasil, Luiz Alberto Figueira Machado.
O texto final deixa de fazer grandes avanços. Em boa parte pelo boicote dos países ricos, que varreram do documento final o acordo sobre a exploração dos oceanos e a criação de um fundo para mitigar danos ambientais, entre outros aspectos.
Muitos temas que deveriam ter definições claras se transformaram em recomendações genéricas e sem prazo. Por exemplo, o combate à miséria e a cobertura universal da saúde da mulher.
Claramente, em se tratando de questões ambientais, o peso das grandes empresas e das suas conexões com os governos dos países ricos terminou desequilibrando o jogo.
O mundo não sai pior da Rio+20, mas deixa de avançar significativamente. Por isso a Rio+20 não é um enorme sucesso. Por outro lado, está longe de ser um retumbante fracasso.
Pontualmente, houve avanços. Como a criação, até 2014, do comitê que irá propor uma arquitetura financeira para subsidiar reparos aos danos ambientais no mundo. E a recomendação expressa aos países para que ratifiquem a convenção que trata do combate à corrupção.
Condenou-se a existência de subsídios à exploração da biodiversidade nos oceanos. E, ainda, decidiu-se pela criação de um fórum sobre desenvolvimento sustentável na Organização das Nações Unidas (ONU), gerando a expectativa de que o tema será tratado com maior comprometimento.
Considero o maior de todos os avanços a participação da sociedade civil. Mesmo que as entidades não governamentais tenham condenado, e com razão, a timidez do documento final no que tange às questões do desenvolvimento sustentável, a participação da sociedade civil foi extraordinária.
Olhando para o presente, podemos ficar decepcionados. Olhando para futuro, tudo indica que será muito diferente. O espaço de decisão sem ouvir a participação da sociedade civil está ficando cada vez menor.
No entanto, é midiaticamente mais atraente trombetear os fracassos do que apontar tendências positivas.
Muito do que não foi conseguido globalmente poderá ser obtido em cada país, a partir da maior e melhor participação da sociedade. Além do mais, é importante reconhecer nos exemplos locais da Ficha Limpa e do Código Florestal a relevância da participação da sociedade civil.
As mudanças para salvar o planeta só serão atingidas por meio de tratados e convenções internacionais se eles forem estimulados por ações locais e específicas que mudem o comportamento das pessoas.
Por exemplo: que tal boicotar produtos que não sejam ambientalmente adequados? Ou, ainda, boicotar a compra de produtos fabricados por trabalhadores que não recebem salários dignos?
Ao comprovar a pujança da mobilização da sociedade, não tenho dúvidas de que o movimento será cada vez mais intenso e com resultados cada vez mais relevantes, ainda que estes ocorram, por enquanto, nas esferas nacionais e não em escala planetária.
Fonte: Brasil Econômico, 26/06/2012
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