Depois de anos ouvindo das autoridades que os problemas do Brasil ficariam no passado no dia em que o óleo do pré-sal jorrasse das profundezas do oceano, o Brasil levou um chacoalhão de realidade com as palavras ditas anteontem pela presidente da Petrobras, Graça Foster.
Segundo ela, a extração dessa riqueza dará trabalho e exigirá investimentos. Ela se referia, naturalmente, não apenas ao petróleo de águas profundas, mas também ao que se encontra mais próximo da superfície.
O dinheiro que financiará a produção brasileira virá, segundo a presidente, da perseguida paridade entre os preços dos combustíveis no mercado doméstico e no mercado internacional.
Tradução: o dinheiro chegará pelo caminho conhecido, que começa na bomba de gasolina e termina no caixa da companhia. Sairá do bolso do consumidor brasileiro. E ponto final. No momento, é a única solução.
Em primeiro lugar, o mercado já não está tão favorável quanto se mostrava no primeiro semestre de 2010, quando a estatal concluiu um bem-sucedido programa de capitalização que injetou R$ 120 bilhões em seus cofres.
Outra maneira de conseguir recursos seria pela venda de parte das ações que o governo detém a companhia. Isso não faria mal nem ao país nem à Petrobras, mas é o tipo da ideia que seria atacada de todos os lados. Portanto, quem pagará a conta é o consumidor.
O grande problema não está aí. Afinal, há quase dez anos o Brasil não sabe o que é aumento no preço da gasolina e, sob esse ponto de vista, os aumentos são mais do que defensáveis.
É possível afirmar até que, se houvesse a possibilidade técnica de todo o aumento concedido à gasolina na bomba ser transformado em capital da Petrobras e destinado à produção de petróleo, tudo bem.
O problema é que o Brasil vive, quando o assunto é o preço do combustível, uma situação que beira o teatro do absurdo. A Petrobras (que prospecta, explora e refina o petróleo, além de distribuir seus derivados) recebe bem menos dinheiro do que as concorrentes internacionais que fazem a mesma coisa.
Enquanto isso, o consumidor, no posto de gasolina, paga caríssimo para encher o tanque do carro (muito mais do que pagaria em países que estão em condições semelhantes ou até melhores que o Brasil).
O problema é que, entre um e outro, tem o governo – que avança sobre os combustíveis com a voracidade tributária de sempre. Para resumir a história, ao pagar pelo combustível e, com isso, ajudar a Petrobras a vencer o desafio do pré-sal e a aumentar a exploração de petróleo, o consumidor estará, também, entregando mais dinheiro na mão do governo.
Mesmo que não tenha entrado nesse tipo de detalhe, Graça Foster foi clara quanto à necessidade de mais recursos – e sua clareza é um ingrediente a mais no novo estilo do governo, que prefere encarar os problemas com mais realismo do que prometer soluções mágicas para tudo.
O petróleo é, sim, uma riqueza real – mas explorá-la custará uma fortuna.
O governo poderia fazer sua parte, alterando de forma séria e profunda a política fiscal, abrindo mão do dinheiro de verdade, e não das migalhas que disse que abrirá ao autorizar, na semana passada, o aumento de pouco mais de 7% no preço do combustível às distribuidoras. Do contrário, ficará difícil fechar essa e outras contas.
Fonte: Brasil Econômico, 27/06/2012
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