Uma das vantagens do ministro da Fazenda Guido Mantega em relação à grande maioria dos analistas do cenário econômico brasileiro é o otimismo. Para ele, a situação é sempre melhor do que julgam os mais críticos. Não se trata, até porque não teria cabimento a essa altura do campeonato, de uma encenação na qual ele faria o papel de Cândido, o otimista incorrigível de Voltaire.
Mantega se baseou em números e tendências sazonais para afirmar, em entrevista ao jornalista João Doria Jr., que o segundo semestre começou melhor do que o primeiro e que, ao contrário do que pensa quase todo mundo, a economia não está com o pé no freio.
A entrevista, exibida na madrugada do último domingo, no programa Show Business, da TV Bandeirantes, deu a Mantega a oportunidade de expor suas ideias com a tranquilidade que nem sempre tem quando é abordado por jornalistas com perguntas específicas sobre questões mais específicas e pontuais ainda.
E deixou no ar a esperança (tênue, mas de qualquer forma, esperança) de que o governo pode ir mais longe do que habitualmente tem ido no mais central de todos os desafios com os quais a economia tem se deparado: o labirinto fiscal que tira a competitividade do Brasil no jogo internacional.
Na entrevista, Mantega não se comprometeu, nem poderia, com a proposta de simplificação fiscal que ouvira na manhã da última quarta-feira na sede da Federação das Indústrias de São Paulo.
Se o fizesse, começaria a conviver com críticas antes da hora e, talvez, eliminasse toda e qualquer possibilidade de o modelo, que foi elaborado pelo economista Paulo Rabello de Castro, ser implementado neste governo.
Mas, pelo menos, disse que não pretende estender a redução do IPI para automóveis e eletrodomésticos da linha branca para além de agosto e setembro (quando chegam ao fim os regimes especiais previstos nas portarias que deram vida a esse modelo).
Nesse cenário, prometer que não vai prosseguir nesse sistema de improviso recorrente pode ser uma boa forma de dizer que pode ir mais fundo numa mudança que melhore o ambiente tributário para as empresas em geral e para a indústria em particular.
Seja como for, percebe-se nas declarações mais recentes de Mantega um avanço positivo na leitura do impacto da carga fiscal sobre a economia.
Há pouco menos de um ano, Mantega recebeu o Brasil Econômico para uma entrevista exclusiva em São Paulo. Naquela oportunidade, ele afirmou que o único problema tributário que o preocupava era a legislação do ICMS, cuja mudança dependeria do entendimento com os governadores dos estados.
Agora, por tudo o que tem dito e por tudo o que tem feito, percebe-se que o ministro está mais sensível a ouvir o que diz a sociedade sobre essa questão que é, de fato, o nó mais resistente a ser desatado antes de o Brasil se pôr em marcha acelerada.
A própria presidente Dilma Rousseff inclui o cenário tributário (ao lado dos juros e do câmbio) entre os problemas mais sérios da economia brasileira. E problemas sérios, Mantega sabe muito bem, não se resolvem com medidas cosméticas nem com puxadinhos legais.
Fonte: Brasil Econômico
Se não fizerem a reforma tributaria, podem baixar a SELIC. Para ZERO. Que a galinha não decola!