Ausente de todas as listas de favoritos antes dos Jogos de Londres, o ginasta Arthur Zanetti é uma das exceções que confirmam a regra que cerca os esportes olímpicos brasileiros.
E demonstra que, para se tornar um país respeitado entre os que disputam os Jogos, há muito o que ser mudado no programa de preparação dos atletas brasileiros.
Semblante tranquilo, ele entrou na North Greenwich Arena sem que muitos dos torcedores brasileiros ali presentes sequer soubessem o nome do único representante do país nas finais da ginástica artística.
Com 22 anos de idade, nenhuma fama, alguma experiência no circuito mundial, muito talento e aplicação, ele foi o último dos oito classificados a se apresentar nas argolas.
Quando iniciou sua série, o chinês Yibing Chen, o primeiro a se exibir (e favoritíssimo ao ouro), parecia tranquilo no espaço destinado aos atletas no interior do ginásio. Ao final dos exercícios de Zanetti, o telão mostrou Chen, já com o semblante ligeiramente tenso, encarando fixamente o placar à espera das notas dadas ao brasileiro.
Talvez soubesse que, pela qualidade da apresentação que acabara de assistir, seria difícil conservar o título de campeão olímpico conquistado em Pequim.
Quando a tela mostrou os 15.900 pontos dados ao brasileiro (100 a mais que Chen), Zanetti foi convertido no mais novo ídolo do esporte brasileiro. E é aí que está o problema: o elogio fácil a alguém de quem não se conhece a trajetória e os sacrifícios pode dar a impressão de que tudo é muito fácil para ele.
E que apenas a fatalidade explica a ausência de outros brasileiros no degrau mais alto do pódio olímpico.
Mais do que o talento, o mérito de Zanetti é acompanhado por uma aplicação reconhecida por seus amigos nos comentários que imediatamente começaram a ser publicados na internet.
Muitos souberam, então, que ele treina numa academia de São Caetano do Sul, no ABC Paulista, tem presença na seleção de ginástica há alguns anos e que despontou apenas no último campeonato mundial. Sua vitória foi realmente emocionante, e ouvir o hino brasileiro pela segunda vez nestes Jogos é mesmo motivo de orgulho para o Brasil.
O problema é justamente este. Zanetti era um representante solitário do país nas finais, enquanto delegações como as de China, Rússia e Estados Unidos tinham atletas em quase todas as provas.
Tudo bem que a Rússia é uma das principais referências na ginástica artística. Mas os outros dois, Estados Unidos e China, despontaram há muito pouco tempo como centros de referências nas competições do esporte.
É claro que Zanetti pode e deve comemorar muito a conquista, que é resultado, antes de qualquer outra força, de seu talento e de seu esforço pessoal. E que os brasileiros devem, sim, se orgulhar de ver um jovem de seu país se destacar de tal maneira entre os favoritos.
O problema é que, se nada for feito para ampliar rapidamente o número de representantes nacionais em competições desse nível, passará a pesar sobre as costas de Zanetti uma responsabilidade tão grande quanto a que caiu sobre o nadador César Ciello nesses últimos quatro anos.
E isso pode não fazer bem a alguém de cujo nome os brasileiros vão, sim, se lembrar daqui para a frente.
Fonte: Brasil Econômico, 07/08/2012
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