“Houve época em que as grandes guerras eram religiosas. Quando os francos retomavam túmulos sagrados, invasores islâmicos eram rechaçados, kaisers germânicos combatiam cidades italianas e se chocavam protestantes e católicos na Reforma, todos sabiam que estavam lutando por sua fé”, registrava Werner Sombart, no clássico “Mercadores e heróis” (1915).
Com o advento do capitalismo industrial, do nacionalismo e do socialismo, “os reais e mais profundos antagonismos eram agora ideológicos”, diagnosticava o historiador às portas da I Guerra Mundial, tida como “a grande guerra para terminar com todas as guerras” e alcançar o “Fim da História”. “É uma guerra entre duas visões de mundo, é um choque entre as ideologias de comerciantes e guerreiros”, decreta.
Eram muito diferentes as duas visões de mundo. De um lado os ingleses, o mundo da produção e do comércio, do dinheiro e do conforto material. De outro, os alemães, o mundo do heroísmo e da guerra, da bravura e da glória. “A guerra é fundamentalmente das práticas e convicções do povo inglês contra a incomparável superioridade dos sentimentos e do espírito germânicos”, exortava Sombart.
As grandes batalhas contemporâneas se desenrolam no campo econômico. Mas há também aqui distintas visões de mundo. Americanos e ingleses tornaram-se “financistas”, enquanto alemães e chineses permanecem “industrialistas”. A desaceleração econômica global e a guerra mundial por empregos são atribuídas aos excessos dos “financistas”, com sua visão de mundo capaz de levar ao caos a ocidental.
“Esta crise expôs profundas deficiências morais em nossa sociedade. A confiança foi perdida. Os financistas descobriram que havia dinheiro na base da pirâmide, e tudo fizeram para o transferirem ao topo. O colapso do sistema bancário teve custo extraordinário para a economia, contribuintes, trabalhadores desempregados e compradores de casa própria, agora endividados”, denuncia o Nobel de Economia Joseph Stiglitz, em “Queda livre: América, livre mercado e o naufrágio da economia mundial”.
“Os banqueiros assumiram a Casa Branca e o Tesouro, a ideologia de Wall Street capturou Washington”, condenam S. Johnson e J. Kwak, em “Treze banqueiros: captura política e colapso financeiro” (2010).
Fonte: O Globo, 10/09/2012
Robert Kurz, importante teórico marxista, já demonstrou a falácia e o anti-semitismo presente nas análises que visam dividir o capitalismo em industrialismo x financismo, como se esses não fossem campo intimamente imbricados e articulados.
Criticar o financismo, coisa que parte da esquerda anti-semita também faz, sem vincular as estruturas sociais e de classe existente é uma forma a mais de anti-semitismo, na medida em que se buscam culpados para o colapso social em um segmento social, sem questionar a barbárie do industrialismo desefreado (lixo atomico, dejetos, desastes, trabalho escravo pós-moderno, desemprego estrutural, urbanização desenfreada etc) e a interelação entre os campos sociais.