O ministro da Fazenda, Guido Mantega, assegurou ontem que a valorização do real diante do dólar vista nos últimos dias não indica uma mudança no rumo da política cambial.
O ministro enfatizou que o governo não permitirá uma valorização especulativa da moeda e afirmou, com sua ênfase habitual, que o movimento dos últimos dias – quando o preço do dólar recuou alguns centavos e passou de pouco mais de R$ 2 para pouco menos desse valor – não é muito significativo.
À primeira vista, ele está coberto de razão: visto pela pequena variação em torno de R$ 2, o preço do dólar não assusta. Ou, pelo menos, não deveria assustar. O problema, nesse caso, não é o ator principal, ou seja, o câmbio, mas o cenário em que a peça é encenada.
Para ser mais claro: se a produção da indústria atravessasse um momento de normalidade, se a inflação não estivesse ameaçando romper o casulo e voltar a incomodar e se não existisse uma preocupação com o impacto do reajuste da gasolina sobre os outros preços, a pequena desvalorização do dólar seria um dado irrelevante.
O problema é que o cenário está confuso e, nesse caso, o câmbio corre o risco de parecer protagonista numa peça em que ele deveria ser coadjuvante.
Vamos por partes. Em primeiro lugar, a sensação diante do reajuste dos preços do combustível (medida necessária e adiada nos últimos anos) é a de que o governo está tirando com a outra mão aquilo que deu com a redução das tarifas de energia elétrica.
E que, no final, o custo da economia permanecerá o mesmo. Ou até um pouco mais elevado – uma vez que o reajuste do combustível provocará a elevação do custo do transporte e que isso, no final das contas, terá impacto no preço de qualquer mercadoria que viaje de caminhão.
É nesse cenário que a valorização do real passa a ser vista como uma tentativa de reduzir o custo da mercadoria importada e, assim, impedir que a inflação exploda.
Mantega assegura que não há razões para supor que o câmbio seja utilizado como ferramenta de política monetária e que o combate à inflação se faz a golpes de taxas de juros.
Ou seja: se os preços começarem a sair do controle, o governo puxa os juros para cima, inibe o consumo e mantém tudo em seu devido lugar. O problema, nesse caso, é saber se a presidente Dilma Rousseff, com os olhos fixos na eleição de 2014, abrirá mão de uma das suas principais bandeiras (a queda dos juros) em nome do controle da inflação.
É justamente a comparação entre os movimentos do governo para permanecer no poder e aquilo que ele deveria fazer para cuidar da economia que estimula a preocupação com o mau uso do câmbio neste momento.
Ainda que isso comprometa a indústria, um pouquinho de valorização do real provocaria menos estragos na imagem do governo do que um aumento nos juros. E o indicador das chances eleitorais é o que tem movido o Brasil nos últimos dez anos. Infelizmente.
Fonte: Brasil Econômico, 31/01/2013
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