Ao mesmo tempo em que a existência no Brasil de grupos simpáticos ao regime cubano explica, em parte, os protestos contra a blogueira Yoani Sánchez, as manifestações teriam passado do limite do razoável quando, além dela, também atingiram os que foram impedidos de ouvi-la ou assistir ao filme sobre sua história.
Na avaliação de especialistas em relações internacionais, os protestos foram orquestrados por uma minoria histérica, segundo eles mais interessada em ganhar espaço na mídia do que em abrir um canal de diálogo com a blogueira, mesmo que em posições distintas.
– Pensei que a passagem da Yoani Sánchez no Brasil seria menos ruidosa, me surpreendeu um pouco a falta de abertura do diálogo – diz Carlos Vidigal, do Programa de Estudos e Pesquisas em História da América, da Universidade de Brasília (UnB).
Choque com mundo exterior
Para ele, no entanto, a mística da Revolução Cubana ajuda a alimentar críticas e protestos contra os chamados inimigos do regime. Nessa mesma linha, o professor Paulo Vizentini, da cadeira de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, lembra que o regime cubano ainda desperta a simpatia de grupos mundo afora, o que explicaria os protestos. Ele, no entanto, faz ressalvas à posição da própria blogueira, a quem atribui certo descolamento da realidade internacional.
– Uma pessoa que vive reclusa acaba tendo uma visão distorcida do mundo. E quando ela se depara (com a realidade), se surpreende com uma situação que poderia ser prevista – avalia Vizentini, que acrescenta: – Se ela chegar hoje à Europa, que vive este momento de crise e falta de empregos, certamente sua presença poderia se voltar contra ela mesma. Acho que faltou um pouco mais de conhecimento sobre as realidades locais, caso contrário sempre poderá ser alvo de manifestações.
Na segunda-feira, uma manifestação em Feira de Santana, na Bahia, com cerca de 70 pessoas ligadas a movimentos estudantis e sociais, além de partidos políticos, acabou por forçar o cancelamento da exibição do filme e quase impedi-la de falar a uma pequena plateia.
– O protesto não representa a posição do país, mas de uma minoria histérica, normalmente seguidora da ideologia (cubana) – avaliou o mestre em Teoria Política e Relações Internacionais e membro do Instituto Millenium, Bruno Garschagen, para quem a violência verbal ganhou proporções inexplicáveis.
– São grupos que adotam uma postura ditatorial e querem o regime cubano em toda parte, inclusive no Brasil – resume o cientista político.
Fonte: O Globo
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