É antigo o dito popular: “Quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza”. É o caso do PT no governo: o partido que nunca tinha comido melado, quando assume o poder nacional, se lambuza, tal a maneira atabalhoada com que o exerce. E se lambuza não só com a corrupção desbragada, praticada, incentivada e acobertada por membros e lideranças partidárias, a ponto de gerar inveja entre velhos e notórios corruptos.
Felizmente, a opinião pública, a imprensa, o Ministério Público e a Justiça têm combatido a corrupção melhor e mais acuradamente. Infelizmente, com pouco sucesso (como sempre), mas avançando, o que é um alento. Peixes menores já foram parar na cadeia – as vezes só por poucos dias. Mas o cerco está se fechando. O tenaz escrutínio da imprensa e a atenção desdobrada do público têm motivado inovações normativas e fiscalizadoras nas administrações dos três níveis de governo. É cada vez mais difícil e mais perigosa, politicamente, a prática de “malfeitos” – expressão leniente com que a atual chefe e o anterior chefe de governo qualificam as ações de sequazes que são apanhados com a boca na botija pelo Ministério Público e a Polícia Federal.
O julgamento da Ação 470 pelo Supremo Tribunal Federal, se ainda não resultou no encerramento atrás das grades de um punhado de peixes grandes da política, já serviu de advertência para os que se candidatam à prática de “malfeitos”. Talvez seja otimismo, mas acreditamos que a higidez ética no exercício de cargos públicos saiu algo reforçada com o julgamento do mensalão e a exposição, à execração pública, dos réus sentenciados.
Na limpeza da lambuzeira venal, é possível dizer que já estamos no caminho do bom combate e, dentro mesmo do PT, vozes respeitáveis têm dado apoio à ala ética do partido e aplaudido a coibição dos desmandos não programáticos e pra lá de incorretos do ponto de vista político.
Mas há o lado da lambuzeira gerencial.
A sofreguidão do PT em fazer coisas demais a toque de caixa – sem experiência para isso, sem dar ouvidos ao bom senso dos quadros mais tarimbados da administração e desconfiando de que tudo é conspiração do tucanato que precisa ser combatida em cada esquina do caminho – gerou essa coisa que eles chamam de “jeito petista de governar”, em que cada medida adotada para resolver um problema gera dez outros problemas.
Um exemplo foi a melhoria do nível de renda da população, que era necessária e importante, que foi empreendida com sucesso e que deu ao governo do PT os níveis de popularidade de hoje. Mas poderia ter sido feita com mais cuidado, maior prudência e atentando também para a melhoria da produtividade e da competitividade da produção nacional. Da maneira sôfrega com que foi feita, criou os riscos que o País enfrenta hoje nas contas externas, excessivo aumento das importações de manufaturados, em detrimento da produção nacional, numa hora em que manufaturas estrangeiras tinham preços de liquidação por causa da crise nos grandes mercados americano e europeu. Isso, aliás, até ajudou no problema da inflação interna, pois, com a indústria brasileira sem capacidade para atender à demanda, se os produtos importados estivessem com preços lá em cima o efeito na inflação interna seria mais grave ou o governo teria de coibir as importações.
De qualquer forma, a inflação mostrou sua cabeça de hidra e, aí, mais uma vez, a resposta do jeito petista de governar foi tentar contê-la congelando preços de combustíveis e gás de cozinha e reduzindo à força o custo do dinheiro, o que exacerbou ainda mais o consumo já explosivo. Nos combustíveis, a peteca ficou com a Petrobrás, que luta para cumprir o seu programa de investimentos e passou a ser olhada com desconfiança por financiadores e acionistas.
Em busca de mais fórmulas para deter a marcha da inflação, decretou-se o corte nas tarifas de energia, alegrando o populacho, mas gerando graves problemas para o futuro das elétricas, cuja rentabilidade presente e prevista fica ao sabor de decisões em cima do joelho e que precisariam dar segurança a financiadores, internos e externos.
Fundos de pensão e aposentadorias, bancos, empresas privadas e pessoas físicas são acionistas de quase todas as empresas de energia. Na semana passada, os da Cemig viram seu patrimônio em ações da companhia derrubado em cerca de 14% pela simples informação de que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pretende mudar o processo de revisão tarifária da estatal, o que puxou para baixo o valor das ações de todas as estatais elétricas.
Para terminar: BNDES, BNDESpar e Caixa Econômica viram rebaixada sua classificação internacional de risco por causa das carteiras de créditos baratos e, em muitos casos, podres que o jeito petista de governar obrigou essas instituições a fornecer.
Nem falei dos bilhões que a União vai ter de devolver aos contribuintes por causa de trapalhadas da Receita na cobrança de PIS e Cofins, desde 2004.
São “malfeitos” que não dão prisão, pois resultam de uma cadeia de inépcia de difícil identificação, que começa na Presidência da República, e pela qual todos nós pagaremos, via Tesouro.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 25/03/2013
Populacho= “classes inferiores da sociedade”, “ralé”. Ótimo discurso para o PSDB.