. Para candidato da oposição na Venezuela, dificuldade de Maduro em mobilizar chavistas pode decidir eleições
. ‘Ele é um péssimo candidato, que não desperta entusiasmo nem tem conexão com os chavistas’
CARACAS — Como ocorreu na reta final da campanha de outubro, quando foi derrotado por Chávez, novamente a sensação é de que Capriles chega à votação com grandes chances de vencer. Sua agenda é frenética. Na quarta-feira, ele chegou ao comando localizado em Colinas del Bello Monte às 6h30m e, depois de gravar um programa de TV, conversou com o GLOBO.
O GLOBO: O senhor foi derrotado por Chávez em outubro passado, e a oposição perdeu vários governos regionais em dezembro. Sua nova candidatura, porém, despertou muito entusiasmo em pouco tempo. Por quê?
Henrique Capriles: Depois de um esforço tão grande como o que fizemos em outubro, quando alcançamos 45% dos votos, enfrentar um novo processo eleitoral apenas dois meses depois foi realmente complicado. Não teríamos de ter nos desmobilizado, mas foi muita coisa em pouco tempo. Em dezembro, embora o governo tenha obtido 20 governos estaduais (de um total de 23), em termos de votos não foi bem, porque perdeu mais de 3 milhões, em poucas semanas. Eles têm um problema. Quando o presidente Chávez não era candidato, o número de votos caía muito. Observamos isso nas últimas eleições parlamentares e em todos os processos eleitorais. Eu ganhei em dezembro, quando meu adversário era vice-presidente (Elías Jaua) e fez uma campanha com todos os recursos e instituições do Estado intervindo na eleição de Miranda. Mas não conseguiram me derrotar.
Depois veio todo este cenário, que não estava em meus planos. Não pensava em ser novamente candidato. Fui um dos venezuelanos que acreditou nas informações que o governo dava sobre a recuperação do presidente. O governo fez o povo acreditar que Chávez estava se recuperando e que assumiria novamente o poder. Até que um dia nos disseram que ele havia morrido. Parece que tudo estava muito bem calculado, em poucas horas convocaram eleições. Se você tivesse me perguntado há um mês, eu teria respondido que o panorama era complicado. Hoje, me atrevo a dizer que ganharemos no domingo. Vemos um fervor nas ruas que é uma loucura. O que nós construímos no ano passado não era artificial. Percorri o país levando uma proposta, semeando esperança em milhões de pessoas e aqui está o resultado.
Os chavistas que não se sentem representados por Maduro poderiam votar no senhor, ou o mais provável é que aumente a abstenção?
Henrique Capriles: Essa é a grande incógnita desta eleição. Eu busco conquistar esses votos, obviamente, porque quero a união do país. Teremos a resposta no domingo.
Qual é sua opinião sobre Maduro?
Henrique Capriles: É um péssimo candidato, que não desperta entusiasmo nem tem conexão com os chavistas. Os comícios de Maduro são protagonizados por artistas, não sabemos se são shows ou atos de campanha. Os chavistas devem sentir a diferença para Chávez. Enfrentei o presidente Chávez quando eu era um líder regional e obtive 45% dos votos. Hoje sou um líder nacional. Isso me permite ser muito otimista em relação a esta eleição. Sou conhecido em todo o país e já parto de uma base de quase 7 milhões de votos. Vejo mais gente do nosso lado agora do que em outubro. O fervor é impressionante, por onde passamos as pessoas nos esperam. É como se a Venezuela tivesse ganhado a Copa do Mundo.
Alguns países da região manifestaram seu respaldo a Maduro. No Brasil, o ex-presidente Lula gravou um vídeo no qual disse que “Maduro presidente é a Venezuela que Chávez sonhou”.
Henrique Capriles: Não me surpreende que Lula tenha feito isso, não dou importância.
Por que não o surpreende?
Henrique Capriles: Lula foi um grande beneficiado do relacionamento entre seu país e a Venezuela. Por todos os benefícios econômicos conseguidos pelo Brasil graças a sua relação com a Venezuela nos últimos anos.
Realmente não o incomodou?
Henrique Capriles: Nada, nem um pouco. Não sou seguidor da pessoa, sou seguidor do modelo. Tenho uma boa relação com (Fernando Henrique) Cardoso. Quem derrotou Lula num determinado momento foi Cardoso. E Cardoso diz, e isso é o que discutem os brasileiros, que ele foi quem preparou o terreno para que o Brasil entre neste caminho de progresso. Ninguém pode dizer que Cardoso é de direita, ele é social-democrata. Lula teve êxito em sua Presidência mas, repito, sou seguidor do modelo, não da pessoa. Lula saiu e o Brasil continua avançando. Sou seguidor do modelo brasileiro. Não me incomodou, mas acho que é preciso ter cuidado com algumas coisas. Acho que não pegou bem para Lula, porque Lula passou a ser uma referência mundial e gravar um vídeo como esse o rebaixa de nível. Eu, se tivesse sido ele, não teria feito isso, pelo nível que alcançou, ele deve ser uma referência mundial, para todos. Principalmente, já não sendo presidente, deveria elevar-se.
Muitos analistas locais se perguntam o que fariam as Forças Armadas se o senhor derrotasse Maduro nas urnas…
Henrique Capriles: As Forças Armadas, em sua maioria, estão do lado da Constituição. Não me deixo levar pelas declarações de um grupinho de pessoas que está envolvido em negócios, que está vinculado ao poder. Já tenho ministro da Defesa, um general da ativa, mas não posso revelar seu nome porque este grupinho poderia boicotá-lo.
Existe risco de violência depois de domingo?
Henrique Capriles: Espero que o país dê uma demonstração contundente de conduta democrática. Vejo o governo temeroso, mergulhado em desespero. Falam em atentados, mas isso é conversa fiada. Falam em mercenários da América Central, mas se isso é verdade, por que não os prenderam? Quem controla as fronteiras, os aeroportos? Por favor. Tentam causar espanto, porque o candidato do governo tem sérias dificuldades em atrair os eleitores. Vão apelar ao sentimento por Chávez e isso será cada vez mais forte nos últimos dias. Maduro diz ser o herdeiro de Chávez, mas é um candidato tão ruim que está desmoronando.
Se o senhor vencer, convocará um governo de união nacional, com os chavistas incluídos?
Henrique Capriles: Essa é minha obrigação. Não poderia fazer outra coisa. Com toda a oposição e com gente do outro lado também – não os que estão com a corrupção, os que trabalharam pelo país. Se vencermos, na próxima segunda começaremos a trabalhar. A transição deve ser rápida, o novo governo assume de forma imediata.
O senhor teria o Congresso controlado pelo chavismo e, também, as principais instituições do Estado…
Henrique Capriles: Fui governador sem controlar a Assembleia Legislativa. Como prefeito, me dei melhor quando não dominava o conselho municipal. Algumas vezes as maiorias são mais difíceis de administrar. Os desafios não me assustam. Até agora perdi apenas uma eleição, e meu adversário era Chávez.
E como imagina sua relação com os demais governos da região?
Henrique Capriles: Boa, muito boa. Com o Brasil, boa. Tenho certeza que teremos uma relação extraordinária, porque, repito, sou um seguidor do modelo brasileiro. Como poderia não me dar bem, se coincidimos em nossa visão de fazer um governo com foco no trabalho social.
O governo atual tem outros fortes aliados, como a Argentina…
Henrique Capriles: A Argentina nos deve cerca de US$ 13 bilhões pelos acordos de envio de petróleo. Não tenho desejo de brigar com a presidente Cristina Kirchner, mas quando vemos fotos, sorrisos, pessoas que passam por aqui… nada é grátis.
Fonte: O Globo
Maduro, homem de pouco saber e poucas letras, tem um discurso agressivo, afinado com a esquerda, apenas para conseguir votos. O povo venezuelado haverá de distinguir quem é o melhor preparado para dirigir aquele país: se Maduro, ou Capriles. Por outro lado, é muito lamentável que o mensaleiro Lula esteja envolvido na campanha de Maduro. Se ele tivesse um pingo de vergonha, deveria explicar ao povo brasileiro, e agora também ao povo venezuelado, a origem do dinheiro que enriqueceu seu próprio filho.