“A fase do achismo acabou”, comemora o presidente do Simpi – Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo, Joseph Couri. E ele está certo. Poucas pessoas perceberam o que ele percebeu: a pequena empresa no Brasil começa a quebrar um dos fatores que a mantem confinada numa espécie de limbo, como se estivesse condenada a nunca prosperar. Este fator é o “achismo”, ou melhor, o desconhecimento que se tem a respeito dela.
Couri tomou neste início de ano talvez a decisão mais importante de sua vida de líder empresarial: contratou um instituto de pesquisa (Datafolha) e deu início à construção de um primeiro indicador das atividades da micro e pequena indústria do estado de São Paulo. “Ninguém poderá mais alegar que não sabe, que não conhece”, afirma Couri ao exibir os dados de uma primeira de um total de 12 rodadas da pesquisa, com inúmeras revelações.
Por representar um segmento diversificado, com características muito peculiares, por ser inclusive muito diferente dos segmentos das médias e das grandes empresas, a pequena empresa no Brasil sempre foi preterida na formulação das políticas públicas. O desconhecimento a respeito delas, esse não saber como trabalham, como funcionam, que expectativa têm a respeito do desenvolvimento do país ou de seu comando político, tem impedido que elas sejam tratadas por suas diferenças. É uma realidade que começa a mudar.
Na base do Simpi são mais de 200 mil micro (até 9 funcionários) e pequenas (de 10 a 50 funcionários) indústrias. Os 36% desse universo estão localizados na capital, São Paulo; outros 16% estão nas cidades da região metropolitana, como Osasco, Santo André ou São Bernardo do Campo. As demais estão espalhadas pelo interior do estado. Nada menos de 5.400 delas estão no município de Campinas.
Os setores mais representativos da micro e pequena indústria paulista são o da construção civil (13%); vestuário (11%); alimentícios (10%); impressos (9%); fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (7%); fabricação de produtos de borracha e material plástico (6%); fabricação de máquinas e aparelhos elétricos (6%); móveis (4%) e metalurgia (4%).
Além de contratar o instituto de pesquisa, o Simpi atraiu para o mesmo projeto – da criação do primeiro indicador da micro e pequena indústria – a Universidade Mackenzie, que realizará estudos na área econômica e jurídica para propor sugestões de políticas públicas para o segmento, e também a KPMG, que alimentará o programa com dados e análises da conjuntura internacional.
É como se o Sindicato tivesse acendido luzes sobre o espírito empreendedor paulista. As primeiras surpresas surgiram com a posição política dos micros e pequenos industriais. O desempenho do governo de Dilma Roussef é considerado “ótimo” e “bom” para 65% dos brasileiros; entre os micro e pequenos industriais de São Paulo apenas 39% têm essa avaliação; 45% deles classificaram o governo de Dilma de apenas regular. Idêntica avaliação, com os mesmos percentuais, foi atribuída ao governo estadual, de Geraldo Alckmin, do PSDB. A conclusão que se pode tirar desses dados – agora sem nenhum achismo – é de que faltam políticas públicas endereçadas aos micro e pequenos.
A primeira rodada da pesquisa já consegue iluminar grande parte do cenário com que trabalham os micro e pequenos industriais. Trouxe, por exemplo, um dado que é preocupante: apenas 51% dos empresários do segmento investiriam no mesmo setor se tivessem de começar da estaca zero neste momento. O contraponto ao pessimismo está no fato de a imensa maioria deles (71%)manifestar satisfação com a mão de obra de suas empresas.
Há forte apreensão com a alta da inflação e com a inadimplência. Apenas 39% das micro e pequenas indústrias paulistas estão perto do limite para produção. Há, portanto, espaço para expansão e crescimento, decisão que é travada pela conjuntura.
Poder usar uma base estruturada de dados para discorrer sobre os problemas e perspectivas da pequena empresa, um benefício que é proporcionado pelo SIMPI a partir de agora, deve encher de satisfação e entusiasmo todas as pessoas que se interessam pelo bem-estar e pela prosperidade do segmento.
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