Dois fatos chamaram a atenção dos mercados na semana passada. Um foi a decisão do COPOM, elevando a taxa de juros em 0,5 ponto percentual, a 8,0% anuais; outro, o PIB do primeiro trimestre, crescendo apenas 0,6%, quando na média se esperava algo em torno de 0,9% contra o trimestre anterior.
A decisão do COPOM não foi livre de polêmicas, ainda mais depois das declarações do presidente do BACEN sinalizando que agiria de forma “tempestiva” e não mais “cautelosa” no combate à inflação. Uma corrente, inclusive com membros do governo, defendia uma postura mais parcimoniosa, evitando assim o impacto maior sobre a atividade econômica. Achavam que a economia global deve desacelerar nos próximos meses, com menor demanda externa e redução das commodities, gerando menor pressão sobre a inflação doméstica de alimentos. Outra corrente, mais incisiva, achava que não poderia haver trégua contra a inflação neste momento, sendo importante uma postura mais incisiva do BACEN. Acabou vencendo esta segunda corrente.
Na reunião do COPOM a votação dos diretores, aliás, foi unânime. Lá também houve uma mudança de postura, já que antes predominava também uma divisão: entre os mais gradualistas, conhecidos como “pombos”, na liderança de Luiz Awazu Pereira, da área internacional; e os mais incisivos, conhecidos como “falcões”, com Carlos Hamilton, do DEPEC, à frente. No fim, estabeleceu-se o consenso (ou bom senso), o BACEN mostrou autonomia e foco no que deve ser sua atribuição, combater à inflação, ou, como escrito nos manuais, “preservar o poder de compra da moeda”.
Além disto, optou-se, também, por antecipar o ciclo de apertos monetários mais fortes, evitando-se assim ter que fazê-lo na virada do ano que vem, quando do início da campanha eleitoral.
Sobre o ritmo da economia, os dados divulgados até o momento não permitem uma visão otimista sobre o crescimento neste ano. A indústria mostra retomada muito tímida, os investimentos até deram uma reagida neste primeiro trimestre, mas por motivos mais pontuais do que estruturais, e o setor de serviços e o varejo se acomodam em patamar baixo, frente aos riscos inflacionários e o esgotamento de capacidade de endividamento das famílias.
Neste primeiro trimestre, o PIB decepcionou crescendo 0,6% contra o trimestre anterior, 1,9% contra o mesmo do ano passado e 1,2% em quatro trimestres.
Dentre os destaques positivos pelo lado da oferta, o setor agropecuário despontou, com crescimento de 9,7% contra o trimestre anterior e 17,0% contra o mesmo do ano passado. Deve-se salientar, no entanto, que a base de comparação enviesada contribuiu para isto, já que no quarto trimestre de 2012 a retração foi forte: 6,1% contra o trimestre anterior e 8,5% contra o mesmo do ano anterior. Por outro lado, a safra recorde deste ano acabou decisiva, aumentando inclusive a demanda por máquinas agrícolas e estimulando o setor de bens de capital. Em complemento, o PIB industrial decepcionou recuando 0,3% e os serviços perderam fôlego, crescendo 0,5% contra o trimestre anterior.
Pelo lado da demanda, destaque para os investimentos em suave recuperação. A justificar isto, a mudança dos motores de caminhões pesados ao longo de 2012, propiciando base de comparação mais favorável para a produção de bens de capital e um movimento de reestruturação das empresas, através do corte de custos e busca por maior eficiência e competitividade. Ou seja, não há um movimento disseminado de ampliação de capacidade produtiva, para atender a uma demanda atual mais forte, mas sim um processo de maior eficiência das empresas. No primeiro trimestre, a Formação Bruta de Capital Fixo avançou 4,6% contra o anterior e 3% contra o mesmo trimestre do ano passado, chegando a 18,4% do PIB, acima do ano passado (18,1%), mas aquém do necessário para se crescer mais do que 4% e de forma sustentável nos próximos anos.
Por fim, pelos movimentos recentes do governo, observa-se agora uma visão mais voltada para o estímulo dos investimentos e não mais do consumo. Este também já mostra sinais de esgotamento, diante das limitações da capacidade de endividamento, da inadimplência e da inflação ascendente, impactando na renda real. Pelos dados do BACEN, na semana passada, a dívida das famílias, em relação ao orçamento anual, foi a 44%, o maior patamar desde o início da pesquisa, em 2002. Neste contexto, as vendas do comércio mostram acomodação, tendo crescido 4,5% no primeiro trimestre deste ano, não devendo avançar mais do que isto neste ano. Lembremos que em 2012 o comércio varejista cresceu cerca de 8%.
Assim sendo, o norteador do crescimento neste ano será o investimento, o que não deixa de ser positivo. O problema é que passados os fatores pontuais do primeiro trimestre, com os empresários ainda reticentes, as concessões de rodovias, ferrovias, aeroportos, etc, claudicantes, no ritmo atual, dentre outros fatores, não dá para ser muito otimista.
Para piorar, a taxa de câmbio nestas semanas passou de R$ 2,12, sem atuação do BACEN, o que pode sinalizar uma postura de deixar o dólar deslizar para estimular as exportações e a indústria nacional, diante de uma balança comercial que acumula déficit próximo a US$ 6 bilhões neste ano e um PIB industrial em queda.
A explicar este movimento do câmbio, o bom desempenho da economia norte-americana, com o dólar em trajetória de alta global, a perspectiva de retirada dos estímulos pelo FED (política de compra de títulos) e alguma aversão ao risco diante dos acontecimentos recentes.
Acreditamos que este movimento de alta do dólar possa ser pontual, não devendo se manter neste ritmo nos próximos meses. Com o governo mantendo a atual política de aperto monetário, via elevação de juro, e havendo a retirada do IOF para o ingresso de investimentos em renda fixa, isto deve se confirmar. No entanto, não dá para ter certeza se o dólar retornará ao patamar anterior, em torno de R$ 2,00. Isto significa dizer que o BACEN pode ter testado um novo patamar, em torno de R$ 2,05. Aguardemos.
Os “consumidores” estão atolados em dividas.