Há novidades e novidades, mas as do coronel Chávez não chegam a tais, embora possam apresentar alguma originalidade aqui e ali. Não é de hoje, por exemplo, sua pendência com a Colômbia, mas, embora o tiroteio continue verbal, a ele foi aditada a destruição de pontes, logo denominadas de “passarelas usadas por narcotraficantes”. Como se não bastasse o agravamento da linguagem, o belicismo venezuelano foi exposto sem rebuços, ao anunciar que seu país devia preparar-se para a guerra. Nem mais, nem menos. “Preparem-se para a guerra.” Isto foi dito pelo todo-poderoso governante bolivariano, de modo que o brado de guerra não pode ser desouvido pelas demais nações e entidades internacionais. De mais a mais, ninguém ignora que, ultimamente, o coronel Chávez adquiriu aviões para fins militares e não guardou silêncio acerca das suas despesas armamentistas. Outro dia, de resto, referiu-se ao seu colega da Colômbia como “mafioso”. O mínimo que se pode dizer é que essa não é a linguagem de um chefe de Estado, mas a questão não é apenas de linguagem imprópria, pois ela não é de bom agouro.
Há outro dado a ser notado. Faz pouco, o coronel Chávez assoalhou que a crise mundial não atingiria seu país em “um fio de cabelo” e, passadas algumas luas, os serviços competentes do país vizinho reconhecem haver ele entrado em recessão. Essas realidades não desaparecem do dia para a noite e podem agravar-se, quando se tem em conta que a exploração de petróleo, que é a chave do tesouro venezuelano, deixou de ser o que vinha sendo, e a taxa inflacionária se acentua; sem pretender agravar as cores, o momento não é cor-de-rosa para o coronel Chávez e as dificuldades não são alvissareiras para seu país, de modo que o apelo à guerra não deixa de ser expediente útil na medida em que galvaniza o ânimo nacional e pode servir para desviar as dificuldades presentes.
Outrossim, coincide com esses fatos outro dado inédito e por isso mesmo portador de peculiaridades pouco canônicas. Acaba de visitar o Brasil, a convite do presidente Luiz Inácio, o presidente de um país que, até onde se sabe, não chega a ser modelo de democracia, de respeito a direitos e garantias pessoais, sem falar em apoio ao terrorismo fora de suas fronteiras. É um Estado teocrático que se mistura com uma situação pagã no que se refere a direitos humanos. Por isto mesmo, está segregado da comunidade internacional. Ninguém é obrigado a ser simpático ao Estado de Israel, mas daí a afirmar que ele deve ser riscado do mapa vai uma diferença chocante em relação aos padrões do mundo civilizado. Proclamar que o morticínio de milhões de judeus durante o hitlerismo não passa de ficção importa em negar fato histórico reconhecido e proclamado inclusive pelo Vaticano.
Ao triunvirato que impera no Itamaraty ainda não terá ocorrido convidar o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-Il, a visitar Brasília, aumentando o rol dos amigos do presidente?
(Zero Hora – 30/11/2009)
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