As comemorações dos 25 anos da Constituição de 1988 têm sido marcadas por intensa participação popular. Como há muito tempo não se via, as ruas brasileiras foram tomadas por um sem número de manifestações que, em suas múltiplas expressões, podem ser sintetizadas em um sentimento único: indignação democrática. O interessante é que o povo reclama dos políticos e esquece nossa parcela de culpa. Em outras palavras, o acesso ao poder nas democracias pressupõe o exercício do voto pelo cidadão, ou seja, ninguém vira presidente, governador, prefeito, deputado, senador ou vereador por hereditariedade. É claro que uns pensam que nasceram reis e houve, ainda, aquele que pensou que podia ir ao céu e tocar nas estrelas. Doce ilusão. Afinal, a estrela era cadente e, num instante, o céu ficou turvo com a lama de um malsinado processo de compra de consciências políticas venais.
Na verdade, o famigerado mensalão, em pese envolver o PT e a base de sustentação do então presidente Lula, representa um fenômeno político muito mais amplo e complexo. Sem cortinas, o julgamento da Ação Penal 470 pelo egrégio Supremo Tribunal Federal revelou, com crueza, a falência ética e moral do sistema partidário brasileiro. Infelizmente, os partidos estão plantados em uma terra podre, irrigada pelo esgoto do dinheiro sujo, corrupção e caixa 2. O problema disso tudo é que sem partidos não há representação democrática autêntica e, assim, sem o esteio partidário, os políticos viram ilhas de interesses pessoais, cegos pelo poder e surdos aos anseios do povo.
Nesse vácuo de representatividade, espraiaram-se protestos difusos e desencontrados que, na ânsia de externar um sonoro “basta!”, descambaram, em certos casos, para o caminho da violência e da baderna. A exacerbação dos ânimos é um claro sinal da angústia que sufoca a sociedade brasileira. Um povo que a cada R$100 trabalhados, entrega quase R$40 a um governo incompetente que sequer proporciona saúde, educação e segurança pública. Enfim, pagamos uma fortuna tributária e nem mesmo recebemos o básico dos básicos.
Logo, seria muita tolice pensar que o povo iria se vender por alguns trocados de Bolsa Família e quejandos; mais do que tolice, seria virar as costas a um passado de ferrenha e combativa luta sindical que, se não teve estudo formal, foi rica na sensibilidade política, adquirida nas vivências do livro da vida. Eis, aqui, um dos aspectos históricos mais importantes do primeiro quarto de século da Constituição Cidadã de 1988: o povo acreditou e foi traído. Talvez, nesse ponto, o ex-presidente Lula tenha razão: nunca antes na história deste país houve tamanha traição democrática.
O mensalão foi uma punhalada nas costas de um povo que acreditou no líder popular e carismático que, se quisesse, poderia ter levado o Brasil a outro patamar moral e institucional. Ora, se tivesse havido um mínimo de sinceridade, é provável que a indignação das ruas não estaria tão inflamada. No entanto, a demagogia venceu a honradez, na tacanha visão de que o “eu” estaria acima da dignidade do povo. Não está. Mais do que sinceridade, o povo quer ser ouvido, quer ser olhado nos olhos, quer verdade na cara. Tudo isso faltou no Brasil que foi entregue à Dilma Rousseff. E, agora, que a inflação voltou, o câmbio subiu e o PIB caiu? Onde está o mundo encantado do ex-presidente Lula? Terá o país mergulhado em um desgoverno em apenas dois anos de sua festejada sucessora? Terá a atual presidente cometido tantas barbeiragens e outras sandices em tão pouco tempo? Ou será que a herança recebida era simplesmente maldita?
Enfim, as perguntas são muitas; as respostas, poucas e inconvincentes. Aliás, quem acredita neste governo?
Brasil, OPAÍS DO FUTURO !