Empreender nunca foi tão sexy. Pela primeira vez na história, os universitários estão colocando o desejo de montar sua própria empresa como uma meta a ser cumprida no seu plano de carreira, segundo os resultados da pesquisa Empresa dos Sonhos dos Jovens, realizada pela Cia de Talentos em parceria com a Fundação Instituto de Administração. Também é crescente o numero de gestores superqualificados, com experiência relevante em grandes empresas, que estão em crise ou insatisfeitos com o rumo da sua carreira e com o ritmo de vida ou mesmo refletindo sobre o que querem construir em suas vidas e o que vão deixar como legado para o mundo. Esses questionamentos estão impulsionando um contingente de pessoas a largar seus empregos de prestígio e boa remuneração para se dedicar a um projeto próprio, montar uma empresa ou trabalhar numa startup de impacto social.
Isso é inegavelmente muito positivo sob vários aspectos. Mas o único equívoco é pensar que, mudando de carreira ou trabalhando numa startup de impacto social, valores como qualidade de vida ou equilíbrio entre vida pessoal e profissional serão mais fáceis de atingir.
O caso de Diogo Tolezano, 29 anos, ilustra muito bem como empreender pode ser extremamente desafiador, de uma curva de aprendizagem sem igual, mas, ao mesmo tempo, é uma experiência que pode exigir até mais do que no seu antigo emprego em termos de competências multidisciplinares e resiliência.
Formado em Engenharia da Produção e pós-graduado em Administração pelo Insper, Tolezano começou sua carreira em supply chain nas indústrias de bebidas e automobilística. Depois, trabalhou por quatro anos em uma empresa de consultoria de estratégia e gestão para diversos setores. Teve a possibilidade de conhecer muitos modelos de negócios tradicionais, mas não se encaixava em nenhum deles. Enxergava duas possibilidades: empreender ou trabalhar em uma ONG. Foi nesse momento que conheceu o conceito de negócios com alto impacto social.
Oito meses depois de fazer um curso sobre esse tema, Tolezano entrou no Sementes de Paz, um negócio de comercialização de alimentos orgânicos fornecidos por pequenos produtores. Logo tornou-se sócio da empresa. Nesse papel, ele enfrenta todos os dias desafios diferentes, desde como resolver um problema com um fornecedor até discutir projeções financeiras com potenciais investidores. Esses desafios são constantes e aparecem quando menos se espera, então ele adapta sua rotina ao que emerge. Ao mesmo tempo, procura manter o foco nas prioridades estabelecidas para o negócio.
Para Tolezano, é essencial que o empreendedor tenha resiliência, a capacidade de ouvir muitos “nãos”, de enfrentar muitas barreiras e ainda seguir em frente. Ele também cita a importância da autogestão, da automotivação e de ter conhecimento e habilidades multidisciplinares. Isso tudo operando dentro de um cenário de incertezas, mudanças de mercado e remuneração bem inferior ao que estava acostumado.
Apesar dos desafios constantes, o empreendedor continua muito motivado pelo que faz no seu negócio, por saber que os produtores conseguem atingir uma situação financeira e de saúde melhores em virtude da sua atuação, e por estar fazendo algo em que acredita de fato. Também se sente motivado pela transformação que enxerga nas pessoas ao seu redor – os outros sócios e a equipe –, que colaboram para tornar os sonhos realidade.
Histórias como a de Tolezano ilustram como “ser empreendedor” tem sido encarado como uma experiência desejada principalmente por quem atua no setor privado e quer trabalhar com algo em que acredite e que contribua para um mundo melhor. No entanto, fica claro que essa experiência deve ser encarada por quem queira se desafiar dentro de estruturas mais inovadoras, mais enxutas e flexíveis e esteja disposto a atuar num cenário de muito risco e incerteza constante. E você? Tem coragem para encarar?
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”
No Comment! Be the first one.