“One should not base decisions about what kinds of things a government should do on the assumption that it will always do them well.” (David Friedman)
Circula por aí um “manifesto pelo fim da publicidade e da comunicação mercadológica dirigida ao público infantil”. Dezenas de instituições estão por trás da medida, incluindo a CUT e a UNE. Retórica à parte, trata-se apenas da velha arrogância autoritária de alguns, sempre prontos a acreditar que a liberdade é uma ameaça terrível, e que suas vítimas precisam urgentemente de sua tutela. A arrogância dos “engenheiros sociais” anda de mãos dadas com o mais nefasto autoritarismo.
O ranço marxista presente no manifesto pode ser detectado em cada passagem. Logo no começo, o manifesto justifica seu apelo autoritário em nome da “defesa dos diretos da infância, da Justiça e da construção de um futuro mais solidário e sustentável para a sociedade brasileira”. A tentativa de monopólio dos fins é evidente: apenas quem condena a publicidade infantil luta por um futuro “solidário e sustentável”. A propaganda é inimiga da “solidariedade”. Mas, naturalmente, apenas a propaganda que objetiva o lucro, ou seja, a venda de produtos demandados pelo público em geral, e crianças em particular. A propaganda ideológica dessa gente não é nociva. Ao menos é essa a crença deles.
A explicação vem logo em seguida: “a criança é hipervulnerável”. Como ela está em fase de desenvolvimento, ela “não possui a totalidade das habilidades necessárias para o desempenho de uma adequada interpretação crítica dos inúmeros apelos mercadológicos que lhe são especialmente dirigidos”. Resta perguntar: por acaso essas crianças são órfãs, não possuem pais que cuidam delas e lhes dão educação? Será mesmo preciso usar a tutela estatal para “educar” crianças? Se os pais são uns mentecaptos incapazes de cuidar dos próprios filhos, não seriam eles próprios incapazes de interpretar de forma crítica os “apelos mercadológicos”? Então os pais também necessitariam da tutela estatal?
Mas, nesse caso, quem garante que tais indivíduos não seriam vítimas de outro tipo de propaganda, a demagógica? Por que o sujeito seria vítima de apelos mercadológicos, mas estaria blindado contra apelos populistas de governantes autoritários? Será que um eleitor do PT tem habilidade para uma “interpretação crítica” dos escândalos divulgados pela imprensa? Não parece contraditório pregar o sufrágio universal e logo depois demandar extremo paternalismo? Afinal, a tutela será realizada pelo governo eleito pelos mesmos ignorantes manipuláveis que necessitam da tutela, ora bolas!
O tom marxista cresce no trecho seguinte: “A publicidade voltada à criança contribui para a disseminação de valores materialistas e para o aumento de problemas sociais como a obesidade infantil, erotização precoce, estresse familiar, violência pela apropriação indevida de produtos caros e alcoolismo precoce”. Que coisa! Quer dizer que quando as crianças, no intervalo dos desenhos animados, ficam sabendo que um novo biscoito foi lançado no mercado, ou que alguma fábrica criou um brinquedo diferente, isso as prejudica, ajuda a disseminar “valores materialistas”? Talvez a solução definitiva esteja no modelo de comunas, onde nenhuma criança tem propriedade alguma, e até mesmo o pronome possessivo “meu” é proibido. Sabemos como esse modelo “espartano” acaba. Pobres crianças, ratos do laboratório socialista!
Como pai de uma menina de oito anos, fico sempre chocado com esses apelos e manifestos. Fico com a nítida impressão de que essas pessoas nunca tiveram educação decente, e projetam no governo o pai que não tiveram. Ou, como filhotes de Rousseau, transferem para o governo a responsabilidade de educar os filhos que abandonaram. Será que nunca aprenderam o poder de um simples “não”? Será que foram mimadas ao extremo e não conheceram limites? Minha filha assiste desenhos na televisão, e naturalmente acompanha diversos comerciais. Alguns ela até decorou. E daí? Por acaso isso quer dizer que eu tenho que comprar tudo para ela? Será que como pai eu sou impotente diante do “poder” do apelo mercadológico? Curiosamente – ou não – eu simplesmente não consigo ver a coisa dessa forma. Talvez porque saiba dizer “não” de vez em quando. A propaganda ajuda a divulgar produtos que eventualmente podem interessar minha filha. Eu compro apenas aquilo que julgo adequado. Nós não precisamos da tutela desses “engenheiros sociais”.
Uma explicação mais cínica e maquiavélica pode ajudar a compreender este tipo de manifesto autoritário, sempre apoiado por entidades esquerdistas. A tentativa de asfixiar a liberdade de imprensa, inimigo número um do projeto de poder absoluto dessa gente. Uma das formas de controlar a imprensa é limitar sua fonte de renda. Se o governo representar parcela relevante do orçamento, nenhum jornal ou canal de televisão vai ousar atacar de forma muito direta o próprio governo. O cão não morde a mão que o alimenta. Logo, dificultar a vida dos meios de comunicação passa a fazer parte da estratégia ideológica dos autoritários. E nada como impedir a propaganda, fonte principal de recursos da imprensa, para esta meta. Comercial de cigarro? Não pode. Comercial de cerveja? Tenta-se limitar. Comercial de produtos infantis? Não! E a propaganda oficial do governo vai cada vez ganhando mais fatia de mercado, tornando os veículos de imprensa mais dependentes das verbas estatais.
Por isso tudo, sou totalmente a favor da publicidade infantil. Caveat Emptor! Que o comprador esteja atento para separar o joio do trigo. Que os próprios pais sejam os responsáveis pela educação de seus filhos, não o governo. Não somos cães de Pavlov reagindo totalmente por impulso. “Entre o estímulo e a resposta, o homem tem a liberdade de escolha”, disse Viktor Fankl. A criança não tem a devida responsabilidade para escolher sozinha, e por isso mesmo ela tem alguém responsável por ela. Mas este não é o “deus” governo. Não é também o grupo de candidatos a “reis-filósofos” que assina tal manifesto. Os responsáveis serão seus próprios pais. Sei que isso parece uma idéia bizarra para alguns. Mas esses deveriam deixar os demais em paz, e buscar ajuda num divã, para superar sua mania de controle sobre a vida alheia, embalada sempre por cruzadas morais.
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