Fernando Sarney desistiu da ação contra o “Estadão”. É o final feliz mais triste da história da censura. O Estado de Direito acaba de ser substituído pelo Estado da Vontade.
Os Sarney não têm culpa dessa palhaçada institucional. Estão no papel deles, acostumados a garfar a coisa pública, a ver o país como um quintal do Maranhão, um puxadinho familiar.
A culpa é de quem lhes deu poder. A cruzada de Lula, o filho do Brasil, em defesa de Sarney e da sua rede de tráfico de influência criou uma blindagem inexpugnável. A cena do Supremo lambendo o sapato do amigo de Agaciel seria impensável sem as costas quentes do lulismo.
Fernando Sarney agora declara que foi mal interpretado, e desiste da ação ao constatar que seu ato foi confundido com restrição à liberdade de imprensa – o que “jamais poderia ser meu objetivo”. Ele levou quatro meses e dez dias para perceber isso.
O Brasil virou definitivamente a república da cara de pau. Um indivíduo, pessoa física, impõe quatro meses de censura abjeta a um dos principais veículos de comunicação do país, e depois vem a público dizer que foi sem querer. Sabem o que vai acontecer com esse cínico usurpador do seu direito à informação? Nada. Ele é filho do amigo do filho do Brasil.
Depois de Lula dizer que a imprensa faz mal ao país, surge a exumação do famigerado Conselho Nacional de Jornalismo. A família Sarney não vai mais precisar gastar dinheiro com advogados. Os prepostos do império sindical passarão a decidir até onde pode ir a liberdade de expressão.
Realmente, a liberdade tem estado livre demais. Uma coleirinha não faz mal a ninguém. Desde que faliu o plano de José Dirceu de “falar por cima” com os órgãos da imprensa, essa turma vive numa aflição danada, sem saber o que vai sair no jornal do dia seguinte.
Assim não há coração que agüente. Faz muito mais sentido criar uma comissão (e mais uns empreguinhos para a companheirada) para decidir o que a imprensa pode dizer. O Supremo nunca mais vai ser exposto ao ridículo.
O caso do “Estadão” foi pedagógico. Os jornalistas estão convidados a pensar duas vezes antes de apontar, por exemplo, as mentirinhas de Dilma Rousseff – aquela que convocou a secretária da Receita para resolver o caso Sarney. Quem não quiser mordaça é melhor mudar de assunto.
Vamos discutir o clima. Ao que se sabe, ele não tem despachante no Planalto, e nunca pediu nada a Agaciel.
(Publicado em Época)
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