No acumulado até agosto, balança comercial registra um resultado negativo de US$ 3,9 bilhões com os europeus
O Brasil acumula um déficit recorde com a Europa, diante de um mercado ainda estagnado no Velho Continente, dificuldades para competir contra produtos chineses e diante da queda no valor de commodities. Dados oficiais indicam que, até agosto, a balança comercial estava favorável aos europeus em mais de US$ 3,9 bilhões, revertendo mais de uma década de saldo favorável ao Brasil.
Na serie histórica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o tamanho do buraco não encontra paralelo desde pelo menos 1989, quando os dados começaram a ser publicados.
Segundo diplomatas em Bruxelas, pelo menos três fatores pesaram. O primeiro é a estagnação da economia europeia. O mercado consumidor desabou em vários mercados, com a queda na renda, desemprego recorde e corte de salários. Outro ponto que pesou foi o fato de governos, na luta contra suas dívidas, terem paralisado dezenas de obras, reduzido compras e freado investimentos. O terceiro fator é a queda nos preços de bens agrícolas. O resultado foi uma queda no valor exportado pelo Brasil em 5,0%.
Outra realidade é que as exportações brasileiras de bens industrializados estão sendo obrigadas a competir cada vez mais contra produtos de outros países emergentes, principalmente os asiáticos. A China é um concorrente evidente. Mas a Europa fechou acordos comerciais com a Coreia, o que deu maior acesso aos produtos de Seul.
Caminho inverso
A balança negativa também ocorre por conta do aumento das vendas europeias ao mercado brasileiro, ainda se beneficiando de certa expansão. No ano, o Brasil exportou US$ 30,1 bilhões aos europeus, queda de 8% em relação a 2012. Já os europeus registraram alta de 7,8%, com vendas de US$ 34 bilhões. O resultado é um déficit de US$ 3,9 bilhões, o maior já registrado e distante do cenário de 2007 quando o saldo positivo para o Brasil era de US$ 13 bilhões. O pior ano, até o momento, havia sido 1998, quando o déficit foi de US$ 2 bilhões.
A Alemanha, por exemplo, aumentou as exportações para o Brasil em 4,8% em comparação ao mesmo período de 2012. Mas as exportações brasileiras para o mercado alemão tiveram queda de 14,5%. O resultado foi uma ampliação do déficit, que chega a US$ 5,9 bilhões e deve superar a marca de US$ 6,9 bilhões em 2012.
Com a França, a segunda maior economia do bloco, a queda nas vendas brasileiras foi de 12%, contra alta de 11% nas exportações de bens franceses ao mercado nacional. O resultado é um déficit de US$ 2,2 bilhões.
Outro recorde foi batido com a Itália, a terceira maior economia da zona do euro. As vendas nacionais caíram 16%, enquanto as exportações italianas subiram 9,6%. Resultado: um déficit já recorde de US$ 1,7 bilhão faltando ainda quatro meses para o fim do ano.
Na Europa, um dos destaques é o déficit com a Espanha, o maior em 25 anos. Até agosto, as exportações espanholas para o Brasil subiram 32%. Já as exportações brasileiras caíram 4,0%. O resultado é um déficit de US$ 533 milhões. Nunca, desde 1989, a balança registrou um saldo positivo tão grande a favor dos espanhóis. Em 2008, o Brasil acumulava ainda um superávit de US$ 1,6 bilhão.
Até com Portugal o risco é de que o ano termine com déficit, o primeiro em pelo menos 25 anos. Até agosto, as vendas nacionais haviam caído 41%, enquanto as exportações portuguesas tiveram alta de 2%. Por enquanto, a balança registra um déficit de US$ 8 milhões.
A queda nas exportações brasileiras para a Europa e a maior diversificação das vendas do Brasil pelo mundo ainda promoveram outro fato inédito na relação bilateral entre os dois mercados em 2013. Pela primeira vez, a Europa representa menos de 20% do destino das exportações brasileiras. Em 1989, um a cada três dólares exportado pelo Brasil ia para a Europa.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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