Por Wagner Vargas
Professor da Universidade de Stanford (EUA) e pesquisador do Instituto Freeman, o cientista político americano Francis Fukuyama, famoso por decretar o “fim da história”, esteve no Brasil na última terça-feira, 29 de outubro, em evento organizado pela consultoria Tendências, em São Paulo.
Após o seminário, Fukuyama concedeu esta breve entrevista em que criticou o intervencionismo, classificando a escolha das “campeãs nacionais” por parte do governo como perigosa. Ele também apontou certa ingerência política em algumas empresas públicas e defendeu a autonomia dessas companhias em relação às decisões internas, essencialmente, no que diz respeito alocação de investimentos.
Entre suas afirmações de uma sociedade ideal, Fukuyama, que teve recentemente lançado no Brasil o livro “As origens da ordem política” (editora Rocco), no qual faz uma minuciosa análise das primeiras instituições políticas, ressaltou a importância do Estado de Direito, aquele em que o império é das leis e o poder do Estado é limitado por elas.
Instituto Millenium: O governo brasileiro tem subsidiado, com dinheiro público, grandes companhias para se tornarem mais competitivas no exterior. O que o senhor acha do governo escolher os “campeões nacionais” e não o mercado?
Francis Fukuyama: É algo perigoso o governo escolher quais serão as empresas vencedoras. Embraer, Petrobras, por exemplo, são empresas bem-sucedidas. Mas sempre há um perigo de politização, uma tendência em usá-las para propósitos políticos. Elas precisam de autonomia para tomar suas próprias decisões e direcionar seus investimentos. Esta é uma característica muito ruim no Brasil nos últimos anos.
Millenium: E sobre a política econômica do Brasil, o governo também a conduz de forma intervencionista?
Fukuyama: (Risos) Não costumo comentar a política econômica em curto prazo, mas sim em longo prazo, essencialmente, do ponto de vista institucional e seu ambiente. Mas isso, infelizmente, ocorre e acredito que a agenda para reformas não está engajada de maneira séria no Brasil. Para que essas reformas ocasionem em mudanças positivas para o país, tal engajamento faz-se necessário.
Millenium: Essa insegurança institucional, de certa forma, espanta investidores?
Fukuyama: Eu acredito que o governo não deve especificar em excesso as regras sobre o investimento como o faz, o que não significa que ele deve desistir de sua função reguladora, mas fazê-lo com regras claras, bem definidas. O governo também deve atuar para viabilizar o imenso potencial de investimentos e maior participação dos investidores e do setor privado, isso pode facilitar até mesmo a arrecadação de receitas fiscais em longo prazo para programas sociais.
Millenium: Em “As origens da ordem política”, o senhor cita a importância da construção de um Estado forte e a responsabilidade de um governo em relação à sociedade. Houve alguma mudança em sua visão sobre o papel do Estado?
Fukuyama: Não enxergo uma grande mudança nas minhas ideias. Nunca fui radical e um liberal clássico não é contra o Estado. Sempre defendi que ele fosse compatível à realidade do país em questão, sem, necessariamente, ser pequeno. O Estado forte é aquele com o poder para oferecer bons serviços à população e de forma impessoal, ao mesmo tempo, em que atua o Estado de Direito, em sentido oposto, em que o poder do Estado é limitado pelas leis.
Millenium: O liberalismo é o caminho para o desenvolvimento?
Fukuyama: Em uma democracia liberal você precisa de uma economia de mercado. Mas também é necessário ter um Estado regulatório que possa fornecer serviços de alta qualidade para o desenvolvimento.
é isso que falta ao brasil: a separação do
compromisso público e dos interesses privados