Assegurar o acesso à educação básica de qualidade a todas as crianças e jovens brasileiros até 2022. Essa é a meta do Todos pela Educação, organização da sociedade civil fundada em 2006. O Instituto Millenium entrevistou a diretora-executiva da instituição, Priscila Cruz, que ressaltou a importância de valorizar a carreira docente para tornar o ensino de qualidade uma realidade brasileira.
Vencedora do Prêmio Jovens Lideranças, concedido pelo jornal “ O Estado de S.Paulo”, em 2012, Priscilla Cruz, de 37 anos, sugere mudanças, como a criação de um currículo unificado e a ampliação da oferta de vagas em regime integral. Ela acredita que só recentemente os brasileiros despertaram para a importância da educação em suas vidas e para o desenvolvimento do país. “Os efeitos da educação não se restringem à economia e à justiça social. Também impacta na segurança, na saúde e na cidadania”, afirma.
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Instituto Millenium: O Brasil tem resultados ruins em todos os índices internacionais que medem a qualidade educacional. Entra ano, sai ano, e o país não consegue avançar. Qual é, de fato, o grande gargalo da educação?
Priscila Cruz: Não é que a gente não tenha avançado. No primeiro ano do Ensino Fundamental temos conseguido cumprir as metas do governo e do Todos pela Educação. Diria que o ensino médio é a etapa que está mais estagnada. Em educação, não tem bala de prata. Não dá para apontar uma solução específica. Porém, o principal fator é o professor. Quanto mais bem preparados, motivados e engajados forem os docentes, maiores serão as chances de alcançarmos uma educação de qualidade. Sobre esse aspecto é preciso considerar as seguintes dimensões: a atratividade para a carreira, a valorização social e a formação.
Além disso, é preciso ter uma base curricular comum no Brasil. É importante avançar nesse sentido para ampliar o foco no aprendizado do aluno. Também precisamos aperfeiçoar as avaliações, que não têm contribuído de fato para a melhoria da gestão educacional. Outro ponto a ser melhorado, é a gestão das unidades escolares. Deve haver mais oferta de educação em regime integral. Por fim, é preciso ter uma sociedade que valorize a educação.
Imil: A senhora citou a formação dos professores como um dos principais fatores para melhorar o ensino no Brasil. Qual o problema dos cursos de licenciatura? Como controlar melhor a formação dos profissionais?
Cruz: Historicamente, as faculdades de pedagogia preparavam as pessoas responsáveis por construir as teorias pedagógicas. Elas formavam os pensadores da educação. Quando o ensino superior passou a ser obrigatório, as universidades permaneceram praticamente inalteradas. As faculdades de pedagogia continuam formando profissionais para pensar a teoria, e não para atuar nas escolas. O que está faltando é a ligação com a realidade em sala de aula.
Imil: Como a senhora avalia o sistema de progressão salarial baseado no rendimento e na formação dos professores?
Cruz: O principio é correto. No Brasil e em outras partes do mundo não existem tantas experiências exitosas porque o mérito pode ser coletivo ou individual. Em educação é muito difícil isolar o desempenho de um professor, pois o resultado alcançado por um docente é o produto do trabalho de vários outros profissionais. Um professor de história tem o seu trabalho impactado pelo trabalho do professor de língua portuguesa. Mas temos que continuar perseguindo esse modelo. A observação em sala de aula pode ser um caminho.
Imil: Um mapeamento das bibliotecas escolares no país, realizado pelo Todos pela Educação, apontou para limitações no acesso aos livros. O que esse exemplo da falta de infraestrutura nas escolas públicas do país revela sobre a postura do governo em relação à educação?
Cruz: É difícil isolarmos um governo. Temos que analisar o valor agregado promovido pelos governos. Em um escala de 0 a 10, se um governo pegou uma rede no estágio dois, ele não pode ser julgado por ela estar no nível quatro, que ainda é abaixo da média. De forma geral, posso dizer que sempre houve muito descaso com a educação no Brasil. A gente acordou para a importância da educação muito recentemente. O que acontece é que as atuais gestões encontraram uma situação muito ruim e têm tido dificuldade de avançar por causa de um passivo grande, além de uma cobrança maior da sociedade.
Imil: A falta de infraestrutura adequada nas escolas demonstra ainda que o Estado não aplica adequadamente os recursos provenientes dos impostos. Como a senhora analisa essa questão?
Cruz: Há duas dimensões. Primeiro, o investimento per capita é muito baixo. Entre os países que participam do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), o Brasil é um dos que menos investe por estudante. Dos 50 milhões de alunos no país, cerca de 90% está na rede pública. Quando dividimos os recursos por aluno, o investimento ainda é muito baixo. O outro lado da moeda é a gestão. O volume aplicado tem que ser investido da forma correta. A dupla gestão e financiamento precisa andar sempre junta.
Imil: Como a garantia de uma educação pública de qualidade e com infraestrutura adequada para o aprendizado dos estudantes pode contribuir para o desenvolvimento do país?
Cruz: Existem dois tipos de desenvolvimento que estão absolutamente ligados. Um é o desenvolvimento social, refletido na melhor distribuição de renda e na maior mobilidade social. Certamente, a educação é o vetor mais poderoso nesse campo. O outro ponto é o desenvolvimento econômico. O Brasil teria crescido muito mais se os avanços da economia viessem acompanhados de melhorias na educação. Nós não avançamos na educação da mesma forma que em outras áreas. Isso tem freado o crescimento econômico e também a distribuição de renda. A qualidade da educação brasileira precisa crescer de forma mais vigorosa. O país inteiro tem a ganhar com isso. Os efeitos da educação não se restringem à economia e à justiça social. Ela também impacta na segurança, na saúde e na cidadania.
Ela, com certeza, não correspondeu aa expectativa dos perguntadores opinativos. Daqueles que gostam de “dirigir”o perguntado.Patética essa entrevista.