Em 2014, comemora-se os vinte anos do Plano Real, sucedido modelo econômico implementado na gestão do Presidente Itamar Franco, pelo então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso e por uma notável equipe de economistas, destacando nomes como Gustavo Franco, Pérsio Árida, André Lara Resende, Rubens Ricupero, entre outros.
Naquela época, vivia-se um tempo de incertezas políticas e econômicas, com gasto público elevado, problemas fiscais e inflação estratosférica, alcançando mais de 10% em um único mês, algo impensável atualmente. Se não bastasse, a história brasileira daquela época remota ainda à famosa década perdida, sendo uma alusão ao período 1980-1990, dado o baixo crescimento nacional.
Interessante perceber que a releitura de fatos acontecidos há tanto tempo parece bater a porta de todos os brasileiros. Uma simples análise das contas públicas revela um elevado gasto em conta corrente, bem como a baixa qualidade dos serviços públicos prestados em educação, saúde e segurança, citando-os como exemplo.
Anos de intenso trabalho para ajustes no regime fiscal nacional e pela busca do equilíbrio inflacionário parecem estar sendo esquecidos, com a adoção de uma “contabilidade criativa” pelo governo. O legado atual pode custar caro no curtíssimo prazo, considerando a hipótese de uma redução dos estímulos econômicos do Banco Central americano, o que, em tese, reduziria a atratividade da economia brasileira. No longo prazo, realizar investimentos em educação e saúde, sem a devida capacidade de exploração das reservas de petróleo é similar ao que é conhecido como “doença holandesa”, quando a abundância de recursos naturais pode levar um país à bancarrota.
Mais uma vez parece que voltamos de volta ao passado e o futuro cada vez mais distante. Ao que tudo indica, falta ao Brasil uma capacidade maior de articulação estratégica entre o setor público e privado, elegendo pilares de curto e longo prazo rumo ao desenvolvimento e ganhos reais de produtividade. Seria o momento para não mais trabalhar contra a inflação, dada a experiência adquirida neste assunto nas últimas décadas. Logo, que tal trabalhar para melhorar o ambiente de negócios e estimular práticas inovadoras?
Se o ambiente de negócios fosse mais atrativo, com menos burocracia e impostos a pagar, talvez pudéssemos desfrutar de um ambiente de maior crescimento e surgimento de empresas relevantes. Dados do Banco Mundial relatam que o Brasil é uma nação muito dependente de exportações de minério de ferro e soja, sendo produtos de baixo valor agregado. A capacidade para o surgimento de empresas de tecnologia similares as startups americanas ainda é baixa.
Exemplos positivos precisam ser mais explorados, em busca de uma agenda criativa. Por que não exportar técnicas de gestão, citando casos como dos executivos brasileiros que lideram empresas em amplo crescimento nos setores de bebida e de alimentação em território americano? Por que não vender mais aviões e tecnologias de última geração para todo o mundo? Que tal utilizar experiências há mais de vinte anos conhecidas, como as do ITA e Embrapa e constituirmos conhecimento relevante e de ponta para as nossas empresas? Finalmente, por que não pensar em um ambiente de futuro para se fazer negócios, bem planejado e mais favorável para o crescimento?
Que 2014 não seja um ano para se relembrar de histórias já ultrapassadas, como a remarcação de preços ou adoção de indexadores, mas sim de uma agenda positiva e com o propósito de se criar um país de futuro, por mais que há mais de vinte anos este desejo vem sendo uma vontade.
Excelente texto e reflexão atual!