Na data de 9 de Novembro de 2009 comemorou-se vinte anos da derrubada do Muro de Berlim – evento cheio de simbolismos. As lembranças da derrubada foram muitas e emocionadas, mas pouco apareceu sobre a construção do muro e dos personagens envolvidos.
Existem dois personagens centrais nesta história. São dois homens que causaram a construção do muro, não permitindo a queda de Berlim quando bloqueada pelos russos em 1948. Sem eles, não haveria as discussões se a derrubada do muro de Berlim em 1989 teria sido um “erro administrativo”, pois o muro nunca teria existido.
Um foi o general americano Lucius Clay (1898-1978) e representante americano na comissão econômica do pós-guerra. Outro foi o economista e político alemão Ludwig Erhard (1897-1973), ministro da Fazenda. Os dois foram centrais na reforma monetária e econômica e no esforço que manteve Berlim parte da Alemanha Ocidental .
Eram homens muito diferentes. Um era um sulista americano, filho e neto de senadores, aluno brilhante de West Point. Elegante, culto, discreto e de poucas palavras. Era um general de gabinete, nunca estivera numa frente de uma batalha. O alemão era filho de um pequeno comerciante dizimado pela hiper inflação alemã. Como cabo na primeira guerra fora seriamente ferido. Dedicou-se ao estudo da economia. Era mal vestido, hiper-ativo, rechonchudo, bom de copo e de conversa e usava botas esquisitas por causa dos seus ferimentos na guerra.
Mas acabavam aí as diferenças. No resto eram muito semelhantes. Ambos eram determinados, incorruptíveis e destemidos e tinham a mesma convicção: somente cidadãos livres tornariam a Alemanha próspera e prosperidade alemã recuperaria a Europa e faria face ao império russo.
Em 18 de Junho de 1948 (uma sexta-feira) Ludwig Erhard entrou no escritório do general Clay para reclamar que estava sendo insulado nos planos para a introdução de uma nova moeda. O general respondeu que o plano seria anunciado naquele dia. O economista correu para uma rádio e anunciou a reforma monetária. Mas Erhard não acreditava que uma nova moeda seria suficiente e no domingo anunciou uma real reforma econômica, também a partir da segunda-feira. Acabou com os coupons de racionamento, liberou preços e salários, controles de produção, controles de cambio e de exportação e importação. Fez uma reforma fiscal simplificadora e extinguiu a burocracia controladora.
Erhard foi chamado ao comando Bi-Zonal e ameaçado de prisão.
“O senhor modificou nossos controles”, queixaram-se os militares.
“Eu não os modifiquei. Eu os aboli”, respondeu Erhard.
“O senhor tem consciência que pode ser preso?” perguntaram.
“Espero que vossa prisão seja melhor do que a dos alemães”, respondeu.
Erhard estava na comissão econômica não apenas por sua reputação de economista mas também pela coragem com que enfrentara o nazismo. Clay confiava no economista alemão e deu-lhe apoio total. O resto é chamado de “milagre alemão”. Em 1957 a Alemanha já era a segunda economia do mundo, 15% maior do que a terceira, a inglesa.
Depois das reformas, os russos bloquearam Berlim por terra. Mas o general Clay montou uma memorável ponte-aérea, às vezes com 1.500 vôos diários. Manteve Berlim como parte do Ocidente. Em Maio de 1949 o bloqueio foi suspenso. Mas mais de mil alemães orientais fugiam por dia através de Berlim. Então veio a construção do muro em 1961, que colocou numa enorme prisão os alemães do Oriente. E Berlim se tornou o maior símbolo da Guerra Fria. Opressão , servidão e pobreza de um lado do muro. Democracia, liberdade e riqueza do outro.
O ministro das finanças da França Jacques Rueff escreveu em 1963. “Rogo aos economistas que estudem o caso alemão. As pessoas e as coisas que compunham a Alemanha não mudaram em 21 de Junho de 1948. Antes era a planificação autoritária. Depois foi o mecanismo dos preços, restaurando a disciplina consciente de uma economia de mercado. A conclusão, portanto, se impõe: a rigidez da economia alemã – indiscutível antes da reforma – não era efeito das estruturas econômicas mas de origem institucional”
Clay e Erhard foram centrais na criação de uma próspera, estável, democrática e livre Alemanha Ocidental. O comunismo alemão oriental não resistiu ao confronto e o progresso da Alemanha Ocidental criou as condições para que as maiores vítimas dos países comunistas – os jovens – derrubassem o muro de Berlim.
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