Por Alex Campos
Finalmente, o Ministério de Minas e Energia admitiu que os brasileiros vão pagar pelos esforços bilionários para se evitar mais apagão ou racionamento. Na verdade vão pagar em duplicidade. Primeiro, na forma de aporte de 21 bilhões de reais do Tesouro para as empresas distribuidoras de energia elétrica, que estão sofrendo impactos de seguidos reajustes de preços no mercado. Segundo, na forma de aumentos nas contas de luz.
Esses 21 bilhões de reais se referem aos 12 bilhões de reais anunciados na semana passada e aos 9 bilhões de reais já gastos pela União para indenizar as empresas elétricas que não aderiram ao pacote de 2012 que veio a público a pretexto de antecipar as renovações das concessões. De posse deses números, o ministro Edison Lobão se reuniu em Brasília para acertar com representantes do setor elétrico como ficarão as contas dos consumidores nos próximos meses ou anos, a partir de 2015 – o que vai tornar ainda mais pesado o custo da eletricidade no Brasil.
Estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) revela que o custo da energia para o setor no Brasil é de quase 300 reais por megawatt/hora (MWh), sendo mais de 90 reais em impostos e encargos. Dos 28 países pesquisados, a energia aqui é a 11ª mais cara. Ainda segundo a Firjan, comparado à média nos Estados Unidos, o custo da energia para a indústria brasileira é 132% superior.
Todo esse contrapeso tributário é só mais um curto circuito dos muitos que acabaram provocando no Brasil a chamada “desindustrialização”. Ou seja: a cada ano, é cada vez menor a participação da indústria no PIB brasileiro, o conjunto da produção de bens, serviços e riquezas do país. Daí que a “reindustrialização” nacional somente será possível se houver uma revisão honesta e uma reforma corajosa, capazes de permitir maior competitividade e melhor produtividade.
Além de preços mais baixos, a indústria brasileira carece de impacto, eficiência, inserção e absorção internacionais. Faltam ainda inovação, inventividade e criatividade, principalmente em segmentos de ponta, de valor agregado, como o químico, o eletrônico e o de tecnologia da informação. E nada disso depende apenas do “instinto animal” dos empresários; tudo isso depende também do “instinto de competência e de sobrevivência” dos governos.
O fato é que esse cenário obscuro do setor elétrico é mais um episódio mal iluminado a comprovar que não dá para baixar custo de energia, índice de inflação ou taxa de juros no murro e na marra. A ciência e as boas práticas econômicas exigem cuidados, talentos, disciplinas e responsabilidades que, em geral, a esperteza e os maus modos políticos dispensam ou desprezam.
Fazer certas coisas ou coisas certas no grito é quase sempre impossível: tão impossível quanto revogar as leis de Rotação e Translação para fazer o Sol girar em torno da Terra, e a Terra girar ao contrário, rumo ao passado, aos tempos dos lampiões e das lamparinas. O setor elétrico no Brasil precisa de um choque de iluminismo e gestão. Chega de trevas!
*Alex Campos é jornalista, diretor de Redação do “Jornal Corporativo” e colunista do “Painel Econômico” na rádio JBFM.
Muito obrigado Sr. Jornalista Alex Campos