Há um ano, Banco Central deu início ao ciclo de aperto financeiro contra a alta da inflação. Selic chega ao maior nível no governo Dilma
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deu sequência ao ritmo de aperto monetário dos últimos 12 meses e elevou a Taxa Selic em 0,25 ponto porcentual (p.p.), para 11% ao ano. A decisão foi unânime, sem viés – ou seja, é válida até o próximo encontro, em meados de maio. Trata-se da nona elevação consecutiva do juro básico da economia desde o início de 2013 – a trajetória de alta teve início em abril do ano passado, quando a autoridade monetária subiu a Selic de 7,25% (mínima histórica) para 7,5%. Com a nova elevação, a Selic passa a ser a maior do período Dilma Rousseff, que assumiu a presidência em 2011 com juro a 10,75%.
Votaram por essa decisão o presidente do BC, Alexandre Tombini, e os diretores Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, Luiz Awazu Pereira da Silva, Luiz Edson Feltrim e Sidnei Corrêa Marques. No comunicado divulgado junto com a nova taxa, o Comitê afirmou que vai “monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”.
Ao promover um novo aumento dos juros, o BC responde às preocupações agência de classificação de riscos Standard and Poor’s, que reduziu a nota de crédito do Brasil de BBB para BBB-. Ao manter a austeridade sobre a inflação, a agência mantém os juros mais altos e tornam o custo do dinheiro mais elevado, desestimulando o consumo e, consequentemente, controlando a inflação.
Logo após a decisão da S&P, o BC divulgou nota dizendo que o Brasil tem respondido e continuará respondendo “de forma clássica e robusta” aos desafios apresentados pelo quadro internacional, independentemente da avaliação da agência. Ainda segundo o comunicado, a resposta brasileira combina “austeridade na condução da politica macroeconômica, flexibilidade cambial e utilização dos colchões de proteção acumulados ao longo do tempo (reservas de liquidez) para suavizar os movimentos nos preços dos ativos.”
Apostas – Como a expectativa do mercado era unânime, de alta de 0,25 p.p., os olhos dos analistas se voltaram para o comunicado divulgado junto à decisão sobre a taxa de juros. Analistas do Itaú-Unibanco esperavam um informativo com uma indicação clara para o próximo encontro, em maio – que deixasse espaço para um novo aperto monetário ou para o início da manutenção dos juros. “(A manutenção seria) Uma decisão que vai depender dos dados de inflação”, escreveu o economista-chefe do setor de pesquisas macroeconômicas do Itaú, Ilan Goldfajn, em relatório distribuído ao mercado.
Analistas do Bradesco acreditavam que o documento viria igual ao anterior, porém, davam mais flexibilidade para a próxima decisão do Copom ao considerar que esta pode ser a última alta. “Julgamos que essa alta de 0,25 p.p. deverá ser a última do ciclo altista”, disse o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, em relatório distribuído pelo banco.
Inflação — No Relatório Trimestral de Inflação mais recente, divulgado em março, o Banco Central sinalizou sua preocupação com o patamar inflacionário. Segundo o documento, a inflação será maior em 2014. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará em 6,1% neste ano, ante previsão anterior de 5,6%, aproximando-se ainda mais do teto da meta do governo, de 4,5%, com margem de dois pontos porcentuais para mais ou menos. Também foi elevada a estimativa para a inflação em 2015, a 5,5%, acima da medida anterior (5,4%). Além disso, projeta que o índice fechará o primeiro trimestre de 2016 em 5,4%.
No documento, o BC disse que os riscos desse cenário vêm “do comportamento das expectativas de inflação, impactadas negativamente nos últimos meses pelo nível da inflação corrente”. A autoridade monetária citou as incertezas sobre o aumento de preços da gasolina e da eletricidade. Ainda no relatório, o BC divulgou uma previsão de alta de 9,5% nas tarifas de eletricidade em 2014. Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta quarta-feira que a energia deve ter um reajuste maior em 2015.
Alimentos— Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no Senado, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, falou sobre a pressão inflacionária dos alimentos. Contudo, ele disse que a recente alta tende a ser um choque temporário e a política monetária deve agir para que esse movimento se limite ao curto prazo. “Pressões localizadas, especialmente no segmento de alimentos in natura, a princípio, tendem a ser um choque temporário”, afirmou o presidente do BC.
Fonte: Veja
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