O pressuposto da liberdade é a responsabilidade sobre si próprio. Quando deixamos de ser dono de nosso destino, de nossos desejos, de nossos sonhos e nossos quereres, abdicamos da possibilidade de escolha pessoal e nos tornamos meramente um sujeito manobrável, cujo predicado pertence aos outros e não, a si mesmo. A liberdade é, portanto, um ato de responsabilidade e emancipação individual que, ao invés de nos tornar mais um, nos transforma em simplesmente alguém, absolutamente único e inconfundível no plano existencial da vida.
O caminho da liberdade, no entanto, não é fácil e exige persistente dedicação. Dedicação para compreender criticamente a realidade através de um progressivo estímulo à razão pensante sem descuidar, é claro, da leitura silenciosa do saber intuitivo. Em outras palavras, a racionalidade, além de uma instância do pensar, é uma forma de aquisição de consciência, e somente seres conscientes conseguem partir de si e chegar ao outro sem perder autonomia e independência. Quando duas personalidades autônomas e independentes se encontram, a dominação se torna impossível, possibilitando a soma de duas liberdades individuais rumo à via do avanço civilizatório. Aqui, andando juntos, chegamos à democracia e à política.
Objetivamente, somente a democracia permite ao indivíduo ser livre, e, ato contínuo, emancipar-se para a plenitude da vida. Viver a vida plena é vencer a solidão e construir pontes de relacionamento interpessoal, ou seja, a liberdade também nos torna um ser político. Logo, é, na política de nossas vidas, que a individualidade torna-se humana, superando as barreiras da indiferença. Além da capacidade de raciocínio, somos dotados pela capacidade de sentir, de atrair simpatias e antipatias, de possibilitar convergências e gerar divergências, de unir e separar, de elaborar teses e maquinar antíteses, fazendo do diálogo permanente um instrumento hábil de superação de diferenças com vistas ao aprimoramento da sociedade, seja no plano material ou imaterial.
No trajeto da liberdade, que vai do indivíduo ao cidadão consciente, temos na escola um papel político fundamental. Sem cortinas, é na escola que a criança dá os primeiros passos na direção de uma vida livre responsável, aprendendo a se relacionar com os professores e colegas, a respeitar as regras do jogo, a fazer amizades, a viver infantis amores inesquecíveis, a criar espírito de competição nas partidas de futebol, a se preparar e colocar à prova, a ser aprovado ou reprovado nos exames e testes, a superar dificuldades, a conhecer seus próprios limites, seus pendores e sua vocação. Enfim, na escola começamos a olhar para nós mesmos e a compreender até onde nossos passos podem nos levar.
Dessa forma, o grau de qualidade da democracia está diretamente associado com o nível educacional do povo. A regra é simples: boas escolas geram bons cidadãos. E bons cidadãos são a matéria-prima de bons políticos. O problema é que os parasitas do poder não querem um povo livre nem instruído, pois, assim, conseguem ficar no paraíso da impunidade política, engando a manada de bobos da corte. Dá para deixar de ser bobo, mas, para tanto, teremos que ser mais ativos. Ou será que liberdade combina com passividade irresponsável?
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