Vivemos em um mundo no qual os desafios globais são cada vez mais complexos. Nossa capacidade ainda é muito limitada para lidar com os efeitos do aquecimento global, coordenar os esforços dos bancos centrais na área econômica ou tratar de disputas comerciais milionárias. Exemplos disso são a incapacidade de chegar a resultados concretos na conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP15) e os conflitos enfrentados pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
A dificuldade de coordenação mundial também se revela no difícil estabelecimento de regras globais para o mercado financeiro, a partir de normas técnicas que deem confiabilidade aos sistemas de operação, buscando evitar a ocorrência de uma nova crise. O problema é que nem todos os países querem ser submetidos a esse processo. Diante disso, o ideal seria, pelo menos, identificar aqueles países que aceitam adotar as políticas tecnicamente corretas na visão financeira mundial, estimulando o reconhecimento internacional às boas práticas. Atualmente, qual é a segurança que temos, no mundo, ao ver bancos com níveis de alavancagem de 30 vezes sobre o seu capital próprio, enquanto outros demonstram um patamar inferior a 10 vezes?
Some-se a isso a nova configuração geopolítica mundial, que, pelo elevado nível de globalização, já não envolve apenas a liderança hegemônica de um país, como anteriormente ocorria com a Inglaterra e, posteriormente, com os Estados Unidos. Ademais, organismos internacionais, como a ONU, criada após o final da II Guerra Mundial, já se questionam sobre a necessidade de sua atualização, para atuar de forma mais efetiva em relação às demandas globais de hoje em dia.
Frente a essa complexa realidade, cada vez mais começa a surgir o conceito de governança global, que pode envolver distintas formas de atuação, desde grupos locais ou nacionais até órgãos internacionais e corporações globais. Não se trata, portanto, de constituir um governo mundial, mas de harmonizar as demandas dos países e a necessidade de cooperação internacional. Afinal, as decisões tomadas por uma nação, cada vez mais, podem impactar o cenário mundial, seja em termos econômicos, sociais ou ambientais. Governança também não quer dizer estatização, mas a adequada regulação das atividades no mercado.
Na prática, ainda temos um longo caminho para percorrer até a construção de uma governança global. Os países, nos debates sobre temas mundiais, buscam defender seus interesses e seguem, essencialmente, uma visão imediatista. E mais do que isso: o não reconhecimento da importância de governanças globais, para definir as relações da humanidade, impede a construção das soluções dos conflitos mundiais.
À primeira vista, esse assunto pode parecer distante da realidade de nossas vidas. Mas não é. Governança global pressupõe visão de médio e longo prazos, algo que deveria ser prioridade na esfera nacional, estadual e municipal de nosso país. Ela também é importante em qualquer instituição privada ou do terceiro setor. Entretanto, é preciso ter em mente que, sem ética ou valores, as estruturas de governança não se sustentam. Portanto, a construção do futuro não está apenas na mão de lideranças globais. Resta a cada um de nós fazer a sua parte.
(“Zero Hora” – 24/01/2010)
Jorge #Gerdau fala sobre GOVERNANÇA GLOBAL: http://migre.me/hzF6