Para melhorar interlocução com setor produtivo, governo deve desonerar máquinas, móveis e têxteis
Menos de duas semanas depois de anunciar um pacote de bondades para tentar melhorar a interlocução com os empresários, o governo já trabalha num novo conjunto de medidas para turbinar a economia, com foco no aumento do consumo. A primeira ação da nova rodada será a prorrogação até dezembro do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para veículos. Mas, segundo técnicos da equipe econômica, também devem vir pela frente algumas desonerações e medidas para destravar o crédito.
Preocupada com o fraco desempenho da economia às vésperas da eleição, a presidente Dilma Rousseff ordenou que o Ministério da Fazenda se reúna com o setor produtivo, receba as demandas das entidades setoriais e avalie quais pedidos podem ser atendidos. No entanto, diante das dificuldades em fechar as contas públicas este ano, os técnicos estão passando um pente fino na lista de pedidos e devem atender aos que têm maior potencial de ajudar a estimular a atividade.
Foi com base nesse critério que se decidiu, por exemplo, prorrogar o IPI reduzido dos carros. O governo quer ajudar a aumentar as vendas e evitar que as montadoras demitam trabalhadores.
Peregrinação ao gabinete de Mantega
Mas, segundo integrantes da equipe econômica, outras desonerações podem ser adotadas para beneficiar setores como moveleiro, têxtil e de bens de capital. Neste último caso, a ideia é estimular a renovação dos parques industriais. A equipe também avalia como incentivar a concessão de crédito para consumo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já disse publicamente que os bancos têm sido excessivamente conservadores na hora de oferecer financiamentos à população e que isso tem prejudicado o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país).
Na semana passada, o BC reduziu sua expectativa de aumento do crédito no ano, de 13% para 12%. As instituições financeiras também estão menos otimistas. Levantamento realizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) neste mês mostra redução na expectativa de crescimento do estoque de empréstimos, de 13,1% para 12,4%. Em 2013, o crédito total cresceu 14,6%.
Enquanto isso, a inadimplência cresce. A taxa registrou em maio sua primeira alta desde setembro de 2013, subindo de 3% para 3,1% no mês, segundo dados do BC. Os calotes das pessoas físicas também aumentaram, de 4,4% para 4,5%. Foi a segunda elevação em 2014 e o maior patamar desde novembro passado. Essa elevação é um dos motivos pelos quais os bancos estão mais cautelosos em conceder empréstimos.
No início do mês, o ex-presidente Lula cobrou maior oferta de crédito no mercado interno como forma de retomar o crescimento da economia. Lula se dirigiu diretamente ao secretário do Tesouro, Arno Augustin, que estava presente no mesmo evento, e disse que sem crédito “não se vai a lugar nenhum”.
“Arno, um dia você vai ter que me explicar por que, se a gente não tem inflação de demanda, por que a gente está barrando crédito. Porque, com o crédito, todo mundo vai à luta, o comércio vai à fábrica, a fábrica vai produzir, melhora a vida de todo mundo. Sem crédito, ninguém vai a lugar nenhum”, disse o ex-presidente na ocasião, para depois acrescentar que o país poderia chegar a ter crédito equivalente a 80% ou 90% do PIB, já que há países com percentual de 120%.
Depois de uma grande reunião realizada entre o Fórum Nacional da Indústria e a presidente Dilma no Palácio do Planalto, de onde saiu o último pacote de incentivos, as entidades empresariais começam hoje uma peregrinação ao gabinete de Mantega. Na agenda do ministro para esta segunda-feira estão encontros com representantes de cinco entidades. O primeiro será com companhias do varejo e supermercados. Depois, entrará o setor automotivo e, em seguida, vão os setores de móveis e madeira.
Bondades em nova medida provisória
Nesta semana, também será publicada no Diário Oficial uma medida provisória (MP) com incentivos que foram anunciados por Mantega depois da reunião com o Fórum Nacional da Indústria, entre elas, a recriação do Reintegra, programa que dá aos exportadores um crédito de PIS/Cofins sobre as vendas de produtos manufaturados no exterior. No entanto, os técnicos da equipe econômica admitem que algumas novas bondades podem sair já nessa MP.
O maior desafio do governo está no impacto que essas ações têm sobre as contas públicas. Com a receita prejudicada pelo fraco desempenho da atividade, o governo central registrou um déficit primário de R$ 10,5 bilhões em maio, pior resultado da História. Já a arrecadação somou R$ 87,897 bilhões em maio, com recuo de 5,95% sobre o ano passado. No acumulado de 2014, o total pago em tributos no país chegou a R$ 487,207 bilhões e cresceu apenas 0,31% sobre 2013. Os dados levaram a Receita Federal a reduzir sua projeção anual de crescimento da arrecadação de 3% para 2%.
Fonte: O Globo
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