Desempenho acadêmico de excelência já faz do Impa uma espécie de ‘Harvard carioca’
O anúncio de que o brasileiro Artur Avila Cordeiro de Melo foi um dos ganhadores da Medalha Fields, o “Prêmio Nobel da Matemática”, na abertura do 27º Congresso Internacional de Matemáticos anteontem na Coreia do Sul, vai dar um reforço a um ambicioso plano de expansão do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), onde ele fez sua formação. Já considerado um centro de excelência mundial nos estudos de sistemas dinâmicos, área em que Avila obteve seu mestrado e doutorado, o Impa pretende ampliar o número de linhas de pesquisa, com consequente aumento no número de pesquisadores contratados e vagas para novos alunos.
Poucos cariocas sabem, mas eles têm uma “pequena Harvard” escondida em meio à Floresta da Tijuca, no Horto do Jardim Botânico. Está é a terceira residência desde que o Impa foi fundado, em 1952, por três pesquisadores brasileiros: Lélio Gama, Leopoldo Nachbin e Maurício Peixoto. O instituto surgiu ainda na esteira da criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), quando o Brasil queria se industrializar e desenvolver sua ciência.
O Horto, sede do Impa desde 1979, reúne 50 pesquisadores-professores com pós-doutorado, sendo 19 de fora do Brasil. Desde 1952, o instituto já formou 744 mestres e 401 doutores.
A quantidade pode não superar grandes universidades mundo afora, mas a produtividade dos poucos acadêmicos chama atenção. Em 2011, por exemplo, dados compilados pela Sociedade Americana de Matemática mostraram que o Impa publica, em média, 2,03 artigos relevantes por pesquisador ao ano, enquanto Harvard alcança 1,89 e Princeton, 1,83.
E são trabalhos científicos de grande valor. De acordo com pesquisa recente da Universidade de Leiden, na Holanda, o Impa ficou em primeiro lugar no quesito “impacto científico” de seus estudos. Segundo a instituição holandesa, 13% dos artigos publicados pela “Harvard brasileira” têm forte impacto mundial.
Agora, com a conquista da Medalha Fields por um de seus pesquisadores, o instituto sonha com a expansão para atrair cada vez mais cérebros. Atualmente, 153 alunos têm matrículas abertas, sendo 43 no mestrado acadêmico, 12 no mestrado profissional, e 98 no doutorado. E basta dar uma percorrida pelos corredores do Impa para perceber que o português é apenas uma das diversas línguas faladas pelos estudantes. Cerca de 40% dos mestrandos e doutorandos são estrangeiros, sendo a maioria proveniente de outros países da América Latina. Já no pós-doutorado, são 60 jovens pesquisadores, 36 deles estrangeiros.
Outro dado curioso é que cerca de 15% dos alunos de mestrado sequer frequentaram faculdades antes, sendo que muitos deles ainda estão em escolas do ensino médio e fundamental. Neste caso, o estudante pode cursar todas as disciplinas da pós, mas somente retirará o título de mestre ou doutor depois de terminar a graduação.
– Os cursos do Impa são abertos a quem se interessar. O de verão, sobre análise real, atrai cerca de 300 pessoas por ano e também serve como um pré-seleção para o mestrado. A matemática tem características que permitem identificar facilmente pessoas com talento para ela, que vai muito além da simples capacidade de resolver problemas – afirma César Camacho, diretor-geral da instituição. – A seleção de nossos pesquisadores e alunos é feita com base apenas no mérito, algo que distingue o Impa entre as instituições brasileiras de ensino superior.
Planos de expansão
Os planos de expansão começaram a sair do papel em abril, graças à doação de um terreno de 250 mil metros quadrados contíguo às atuais instalações do Impa no Horto pela família Marinho (sócia da Infoglobo, empresa que publica o jornal O GLOBO). É nele que o instituto pretende construir as residências para alunos e pesquisadores, além de espaços para conferências, exposições, salas de leitura e estudos.
Segundo Camacho, o financiamento para as obras, orçadas em cerca de R$ 100 milhões, já foi garantido pela presidente Dilma Rousseff. O objetivo é que tudo esteja pronto para receber os participantes da Olimpíada Internacional de Matemática de 2017 e, um ano depois, da próxima entrega da Medalha Fields, ambos no Rio.
O status de organização social dá mais liberdade para o Impa contratar pesquisadores-professores estrangeiros e abrir novas linhas de pesquisa já com profissionais de alto nível, pois, ao contrário do que acontece em universidades públicas, eles não são obrigados a demonstrar proficiência em português para dar aulas. E é aqui que entra outro ponto importante do projeto de expansão do Impa além do intelectual, o logístico.
– Nossos alunos ganham uma bolsa, cujo valor não é suficiente para viver em uma cidade como o Rio – diz. – É importantíssimo termos residências para oferecer e, com isso, abrir nossas atividades para um público maior de profissionais e estudantes do Brasil e também do exterior.
Fonte: O Globo
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