No campo dos investimentos, os empreendedores de impacto, que criam soluções sociais e ambientais que beneficiam milhões de pessoas, têm uma boa razão para serem mais otimistas do que aqueles que comandam negócios tradicionais.
Enquanto os investimentos estrangeiros diretos e os do governo federal estão parados ou em leve declínio neste ano, os fundos dedicados a fazer aportes em empreendedores de impacto pretendem aumentar em até 50% o valor destinado a negócios dessa área e dobrar o número de empresas que têm em suas carteiras.
Esses são alguns dos resultados do “Mapa do Setor de Investimento de Impacto no Brasil”, o primeiro levantamento dessa área feito no país, que foi divulgado na sexta-feira passada (29). A pesquisa, realizada pela Ande (Aspen Network of Development Entrepreneurs), pela LGT Venture Philantropy, pela Quintessa Partners e pela Universidade de St. Gallen, consultou 22 investidores de impacto e mostra a evolução de um setor ainda nascente no Brasil.
O levantamento revela que fundos especializados querem captar US$ 150 milhões para destinar a negócios de impacto social em 2014 e 2015, quase o mesmo montante arrecadado nos últimos dez anos. Nesse período, US$ 177 milhões foram captados, dos quais US$ 74,6 milhões foram investidos em 68 empresas brasileiras.
“O setor está em um momento de crescimento aceleradíssimo. Os investidores têm uma perspectiva bastante positiva de que esse mercado vai se estabelecer e que mais organizações vão se envolver nos próximos anos”, afirma Rebeca Rocha, coordenadora do polo da Ande no Brasil e uma das realizadoras da pesquisa.
Neste ano, a meta dos fundos é aumentar o número de transações investindo entre US$ 89 milhões e US$ 127 milhões para chegar a 136 negócios em suas carteiras. No mundo, o total aplicado em negócios de impacto neste ano deve chegar a US$ 12,7 bilhões, segundo estudo do J.P Morgan e da Giin (Global Impact Investing Network).
As áreas mais interessantes para esses investidores, segundo a pesquisa, são as de serviços financeiros – foco de 89% dos entrevistados –, educação (84%) e serviços de saúde (63%).
São mercados com alto potencial de crescimento. Neles, os empreendedores têm desafios como tornar serviços financeiros acessíveis a 64% da população, que está à margem do sistema bancário, reduzir a taxa de evasão escolar, que é de 73% no país, e melhorar o acesso ao sistema de saúde pública, usado por 75% dos brasileiros. Outros setores de atuação que também estão na mira dos fundos são os de energia renovável (53%), habitação (47%), gestão de resíduos (47%) e saneamento (47%).
O perfil dos investimentos
Na hora de decidir onde investir, o primeiro critério que todos os fundos levam em conta é o impacto social que o negócio alcançará. Para convencê-los, porém, é preciso mostrar qualidade na gestão – quesito levado em conta por 60% dos investidores –, sustentabilidade financeira (55%), potencial de ganho de escala (47%), inovação (30%) e replicabilidade (10%).
Em geral, os aportes são feitos em negócios que estão em fase inicial – eles correspondem a 34% das transações. Depois, se dividem entre startups (24%) e negócios em fase de expansão (24%). Empresas já maduras recebem 12% dos aportes, e aquelas que ainda estão no plano de negócios, 5%.
Quando investem em negócios de impacto social, a maioria (56%) dos fundos espera ter um retorno financeiro semelhante ao do mercado de capital de risco. Em geral, eles buscam uma margem de 10% a 35% do valor investido – nos setores de private equity e venture capital, essa taxa varia de 20% a 35%. Em troca, oferecem consultoria estratégica e de negócios, oferecidas por 68% dos entrevistados, assistência técnica especializada (53%), aconselhamento (53%) e programas acadêmicos e de treinamento (21%).
O equity é o instrumento de investimento mais comum, praticado por 84% dos entrevistados. Outras opções bastante usadas são as obrigações conversíveis (47%), a dívida (32%) e as doações (21%).
“Um fator a ser focado agora, para garantir o fortalecimento do setor, é sua capacidade de gerar cases e saídas bem-sucedidas, além de aperfeiçoar as formas de mensuração do impacto dos empreendimentos na sociedade”, afirma Rebeca, da Ande.
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios.
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