Governos, empresas, escolas e famílias — e também o próprio jovem. Cada um tem sua parcela de culpa na existência da geração “nem nem”: população de 5,3 milhões de brasileiros que não estudam, não trabalham e nem procuram emprego. Segundo o Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj, um em cada cinco jovens com idades entre 18 e 25 anos no país se enquadra nesse perfil. Para especialistas ouvidos pelo Boa Chance, para fazer com que a geração “nem nem” vire “com com” — e passe a ter mais estudo e mais trabalho — é necessário que cada um dos envolvidos assuma a responsabilidade que lhe cabe. E que sejam traçadas metas de curto, médio e longo prazo para evitar que o problema siga crescendo.
— Temos que trabalhar com o que é urgentíssimo, o que é urgente e o que é importante — diz Hilda Alves, gerente de Pesquisas do Sistema Firjan, para quem há três frentes que requerem investimentos. — É preciso atuar na educação básica, na educação profissional e na preparação para seleção no mercado. Não há uma solução mágica e única: temos que entender as várias razões disso.
A Firjan, inclusive, realizou uma pesquisa com jovens moradores de comunidades pacificadas com idades entre 15 e 29 anos e descobriu que, geralmente, a situação “nem nem” é deflagrada a partir dos 18 anos. O estudo, que ouviu 1.652 jovens moradores de comunidades do Rio, mostra que, antes dos 18 anos, 12% não trabalham nem estudam e que, a partir dos 18 anos, o índice sobe para 34%, ficando nesse patamar até os 29 anos. O problema atinge principalmente os mais pobres e as mulheres — muitas abandonam o estudo ou deixam de trabalhar por causa da maternidade — mas não é restrito às classes desfavorecidas.
— É um problema em que podemos dividir as responsabilidades: parte é do governo, parte do processo educacional do país, parte das empresas e também do modo como a família educa o jovem — aponta Clarice Dahis, coordenadora pedagógica do Ibmec/RJ.
Para Anna Cherubina, professora de MBA da FGV, faltam estímulos e inclusão para os jovens — especialmente os de hoje em dia, que, muitas vezes, se encaixam no padrão imediatista atribuído à Geração Y, que engloba os nascidos entre 1980 e meados dos anos 90.
Imediatismo: um problema de todos
— Essa geração tem um diferencial por natureza: o imediatismo e a busca por fazer apenas aquilo que é atrativo — destaca Anna, acrescentando que não é mais difícil lidar com os jovens dessa geração, mas diferente. — Para que essa geração vire “com com” precisamos entender como despertar o interesse dessas pessoas. O que estimula os jovens mudou e, muitas vezes, usamos métodos que são ultrapassados, tanto na família, como na escola e nas empresas.
A urgência e o imediatismo, porém, não são características exclusivas dos jovens atuais, na opinião de Aparecida Lacerda, gerente geral de educação profissional da Fundação Roberto Marinho.
— A geração mais nova tem, sim, um senso de urgência, mas todo mundo hoje vive uma pressão de imediatismo. É uma característica do mundo em que a gente vive, que está mudando e vai continuar se transformando.
Para Aparecida, a expansão dos “com com” passa também pela necessidade de ouvir os jovens. A “Pesquisa Nacional sobre Perfil e Opinião dos Jovens Brasileiros 2013”, feita pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), mostra que, embora 47% dos jovens entrevistados não estivessem estudando ou trabalhando quando o levantamento foi realizado, 56% já trabalharam e mais da metade estava procurando trabalho. Além disso, 79% dos participantes afirmaram que há um trabalho que gostariam de fazer e 63% acreditam que há chances de conseguir desempenhá-los.
— Por isso, podemos chamar essa geração também de “tem tem”: tem disposição, vontade e inteligência. A grande maioria quer trabalhar ou estudar. A pergunta é: o que a gente pode fazer para garantir essas condições? — questiona a gerente de educação da FRM.
Fonte: O Globo.
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