Mais uma semana de intensa volatilidade nos mercados. Na Europa, nos EUA, no Japão, nos emergentes, enfim, ao redor do mundo, todos mostraram grande nervosismo nos mercados de ativos, em função do aumento dos riscos fiscais em diversos países que adotaram políticas fiscais anticíclicas agressivas, mas já se encontram numa situação fiscal delicada – ver quadro ao fim.
A detonar este processo de perdas o fato ocorrido em Portugal, com a recusa do mercado em adquirir títulos públicos portugueses nos prêmios ofertados pelo governo. A demanda acabou exigindo um preço mais alto, já que estes investidores colocaram na conta os custos de carregamento destes papéis, dada a situação delicada da economia e das contas públicas portuguesa. Somado à situação pré-insolvente da Grécia e de outros países, denominados como PIIGS, incluindo aqui a Irlanda, Itália e Espanha, o mercado acabou sentindo o tranco do fantasma da insolvência nos principais países do bloco europeu e desabou, com o momento mais crítico na quinta-feira passada (dia 4). Para piorar o baixo astral, começaram a correr boatos sobre a possibilidade de rebaixamento do rating soberano de países importantes para a recuperação global, como os EUA e o Reino Unido.
Sobre a situação da Zona do Euro, o risco de insolvência coloca em dúvida as metas ambiciosas do “Tratado de Maastrich”, um dos pilares desta união, na qual o déficit público não pode passar de 3% do PIB, assim como a dívida pública deve se manter em torno de 60%. No quadro ao fim, o que se observa é uma situação extremamente delicada nas contas públicas destes países, o que pode refletir dificuldade de rolagem das suas dívidas. Com isto, o risco de calote ganha força e, em contrapartida, a exigência de um ajuste fiscal rigoroso, com corte de despesas. O problema, no entanto, é que estes países continuam mergulhados na crise, o que pode ser sentido pela alta taxa de desemprego, havendo por isto, exatamente o oposto, ou seja, a necessidade de mais medidas de estímulo fiscal ou monetário.
Olhando para os EUA, os dados do mercado de trabalho continuam sofríveis, como perdas de postos semanais, e uma taxa de desemprego alta, que na semana passada foi a 9,7% da PEA, mas com payroll ainda negativo, o que pode ser indício de que esta queda de desemprego pode ter ocorrido pelo lado da desistência das pessoas de procurar novos empregos. Sem emprego, a economia não caminha com seus próprios pés, já que não há geração de renda e nem de consumo, não havendo expansão da atividade. Pelos dados da economia norte-americana isto parece bem presente, o que pode ajudar na formação da temível figura de W, ou seja, um “double deep” no desempenho do PIB.
Estes países, impulsionados recentemente pelos estímulos fiscais e monetários, se mostrariam frágeis para manter o crescimento recente, mergulhando numa nova recessão.
Os EUA, por exemplo, cresceu 5,7% no quarto trimestre, mas não deve manter este ritmo nos próximos trimestres de 2010, já que o mercado de trabalho não mostra recuperação. Em paralelo a isto, os bancos centrais dos principais países envolvidos mantiveram suas taxas básicas, mas já existem sinais sobre a necessidade de um aperto monetário, até para tentar esvaziar as bolhas que se formaram, como no caso do chinês, devido à trajetória explosiva dos preços dos imóveis, sem esquecer da inflação.
No Brasil a situação não parece tão estressante, mas toda atenção é pouca em relação aos rumos da inflação e do comportamento da demanda agregada.
A inflação segue em trajetória preocupante, tendo registrado 0,71% pelo IPCA de janeiro, com os IGPs acima de 1%. A justificar este movimento altista, as mensalidades escolares, as tarifas de transporte urbano e as perdas de safras de hortaliças, com as chuvas intensas na região Sudeste.
Com isto, a ata do Copom acabou se mostrando mais cautelosa que de hábito, sinalizando como dado um aperto monetário nos próximos meses, só havendo incertezas o momento exato. Muitos falam que na reunião de março (dias 26 e 27) já haverá espaço, outros em abril. Independente disto, a ata colocou na conta a elevação mais rápida do que o esperado do Nível de Utilização da Capacidade Instalada, já em torno de 84%, a explosão do crédito doméstico e as fortes vendas de bens duráveis, o que fez com que o governo acabasse com a isenção fiscal para alguns segmentos agraciados, como a linha branca e os automóveis.
Neste tema, já começa a retornar o embate entre a Fazenda e o BACEN, com o primeiro querendo adiar o aperto monetário o máximo possível, de olho nos custos eleitorais, e o segundo mirando apenas o cenário inflacionário.
Membros da Fazenda, inclusive, já acenaram com um maior aperto fiscal neste primeiro quadrimestre do ano, para tentar convencer o BACEN a adiar o aperto monetário. Este, por outro lado, já comunicou que tudo dependerá do desenrolar de indicadores chaves, como inflação, atividade econômica, câmbio e capacidade instalada da indústria.
Tem-se, neste caso, a autonomia da autoridade monetária colocada em questão. Lembremos que esta é uma das grandes conquistas destes sete anos de governo Lula. Será que ao fim de mandato, o governo terá uma recaída, optando pela medida mais agradável politicamente? Aguardemos os próximos embates.
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