Resultado em ranking mundial da Times Higher Education segue tendência do país em outras pesquisas
O Brasil não tem representantes entre as 200 melhores universidades do mundo, segundo o novo ranking mundial elaborado pela consultoria britânica Times Higher Education e divulgado nesta segunda-feira (29). A edição deste ano do World Universities Rankings listou as primeiras 400 instituições segundo critérios de desempenho acadêmico.
A brasileira mais bem posicionada é a USP, que pulou da faixa entre 226-250ª colocação do ano passado para a banda entre a 201-225 em 2014. Vale lembrar que a THE utiliza faixas de colocação para as instituições abaixo da 200ª posição.
A Unicamp foi a outra representante verde-amarela no ranking, permanecendo na banda entre 301-350, a mesma da edição do ano passado. Com apenas as duas universidades paulistas entre as 400 melhores, o Brasil fica atrás de outros países emergentes como a Turquia (com quatro instituições entre as 200 primeiras), China (três entre as 200) e Cingapura (duas entre as 200).
No topo da tabela, nenhuma surpresa. A melhor universidade do mundo para a THE continua sendo o Instituto de Tecnologia da Califórnia, seguido pela Universidade de Harvard e pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. Das 10 primeiras, sete são americanas e três, britânicas.
Este é apenas mais um dos rankings internacionais divulgados por consultorias mundo afora a cada ano. Somente em 2014, foram seis tabelas lançadas pela organização britânica Quacquarelli Symonds (QS), pela Universidade Jiao Tong, de Xangai, pela consultoria internacional Center for World Uniersities Ranking (CWUR) e, finalmente, pela Times Higher Education.
O Brasil tem desempenho variável, conforme o tipo de ranking. Se a análise for feita entre todas as universidades do mundo, as brasileiras aparecem timidamente. Neste mês, a QS listou a USP como a única representante do país entre as 200 melhores do mundo. A tendência é a mesma do “ranking de Xangai”, divulgado em agosto, que também colocou a instituição paulista na 144ª posição, e pela CWUR, que colocou a USP na 131ª colocação.
Mas conforme a amostra de países diminui, o desempenho brasileiro melhora. Quando apenas os membros dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) são levados em conta, o Brasil tem duas instituições entre as 10 primeiras, segundo ranking da THE divulgado em dezembro passado. Em maio deste ano, o ranking para a América Latina da QS mostrou que o país tem 10 das 20 melhores do subcontinente. A USP, no entanto, caiu do primeiro para o segundo lugar.
Internacionalização e cobrança de mensalidade
Especialistas apontam que o desempenho tímido do Brasil em ranking internacionais se deve principalmente à falta de internacionalização de seus cursos. Para o editor da THE, Phil Baty, é preciso que as universidades brasileiras utilizem mais o inglês em seu cotidiano, desde créditos extras para o idioma até a publicação de artigos científicos. Além disso, Baty acredita ainda que o Ciências Sem Fronteiras terá impacto positivo no longo prazo em atrair acadêmicos renomados no cenário internacional para seus campi. No entanto, ele alerta que burocracia ainda é o grande entrave para a autonomia universitária no Brasil.
– As universidades brasileiras devem desenvolver estruturas de gestão mais ágeis e mais dinâmicas de contratação de corpo docente e gestão do orçamento. Para ser uma das universidades do topo do ranking, é importante que as reitorias sejam livres para liderar tomar decisões estratégicas em tempo hábil, sem esbarrar nos tapetes vermelhos da burocracia governamental – disse Baty a “O Globo”.
O novo ranking da THE vem no momento em que a USP enfrenta grave crise financeira e de gestão. A comunidade acadêmica da universidade, que acaba de sair de uma greve, discute ainda a possibilidade de começar a cobrar mensalidades de alunos mais abastados, utilizando critérios de gratuidade semelhantes ao do Prouni. Para Phil Baty, a cobrança seria válida, mas sem deixar de lado a importância de investimentos públicos no ensino superior. Ele cita ainda os casos de sucesso de China, Cingapura e Coreia de Sul, países que avançaram no ranking com forte investimento estatal nas universidades.
– Já que universidades privadas dos EUA, que cobram enormes taxas anuais, continuam a dominar os rankings universitários mundiais, muitos tentam copiar esse modelo. Mensalidades também atendem ao princípio de que as pessoas que se beneficiam do ensino superior devem fazer uma contribuição para os custos da universidade, como forma de gratidão. No entanto, há também grandes benefícios para o investimento público no ensino superior, e eu, pessoalmente, acredito que é importante garantir que haja sempre uma forte participação pública no financiamento das universidades.
Para o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Robert Verhine, que é doutor em educação comparada e economia da educação, a discussão sobre as cobranças de mensalidade é válida, mas não se aplica ao Brasil, já que esbarra em questões previstas pela Constituição. Segundo ele, o importante, neste momento, é investir na internacionalização das faculdades.
– Infelizmente, o Brasil ainda vai demorar para conseguir subir nesses rankings, principalmente pela falta de internacionalização nas universidades.
Robert exemplifica com a própria UFBA, onde há cerca de 40 mil alunos e apenas 200 são estrangeiros. Segundo ele, isso precisa mudar para que o nome das instituições comece a ser projetado no exterior.
– Não temos infraestrutura para receber alunos e nem conseguimos atrai-los. Também temos poucos professores que ministram aula em inglês. É evidente que o Ciência sem Fronteiras vai ajudar nesse aspecto. Mas não é fácil promover essas mudanças – diz, acrescentando a necessidade de um corpo docente mais internacional também. – Precisamos discutir medidas que facilitem a entrada de professores vindos do exterior.
Fonte: O Globo
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