Embora não seja uma obra de anjos e cordeiros, a boa política exige necessariamente altura moral e retidão de caráter, pois sem honra e dignidade é impossível atingir a probidade administrativa. Em sua dimensão pedagógica, a democracia é um projeto político de elevação ética da sociedade, fazendo da vida pública responsável um instrumento de proteção da liberdade, de avanços sociais duradouros e de perenes conquistas econômicas. No que tange às subjetividades, a política existe para ser um sinônimo de doação pessoal com impessoalidade de interesses.
Descendo da teoria à prática, é natural que, em uma sociedade crescentemente plural e heterogênea, a concentração do poder seja substituída por um modelo mais aberto e apto a captar os dinâmicos anseios da realidade pulsante. Dentre as possíveis fontes de arejamento do poder, a rotação dos partidos no governo constitui um dos mais eficazes mecanismos de combate à corrupção, à ineficiência e ao clientelismo. Isso porque a falta de oxigenação política apenas contribui para a intoxicação democrática.
Sem meias palavras, é preciso dizer que nosso país vive lamentável período de um partidarismo feudal. Os partidos, em vez de fazer política e pensar o país, se transformaram em feudos indecorosos de fatiamento do poder entre amigos e cortesãos do rei. O fato objetivo é que não há mais partidos autênticos no Brasil. O que temos por aí são meras “empresas eleitorais”, criadas para o sucesso da mentira política. Para refinar a traficância, ainda querem viver do financiamento público de campanhas, ou seja, os dejetos da política vão se retroalimentar, impossibilitando qualquer medida possível para a retomada de melhores hábitos públicos. Silenciosamente e com raro ardil, a indústria política brasileira está fechando as janelas do sistema democrático, degenerando as instituições públicas e agigantando a insuportável incompetência estatal.
Ainda há tempo de salvar o Brasil, mas, para tanto, teremos de mexer na ordem das coisas que aí estão. Aqui, a memória viaja no tempo e vai a 25 de abril de 1975, quando o então senador Paulo Brossard, no uso de sua habitual percuciência política, externou palavras inapagáveis: “Nada como uma passagem pela oposição para refazerem-se os partidos que conheceram, por muito tempo, as intimidades do poder. Ainda não foi descoberto melhor caminho do que a rotação dos partidos no poder para que eles revisem conceitos, apurem a valia de seus homens, meçam o acerto dos seus atos, renovem energias e colham experiências a fim de formular atualizadas soluções políticas”.
Como se vê, a lição do notável homem público gaúcho permanece no digno altar da sabedoria brasileira. Aliás, é sabido e ressabido que a verdade não se corrói com o passar do tempo; ao contrário, ganha brilho e evidência aos olhos da razão pensante. Em época de eleições, se faz oportuno refletir sobre o quão viciado está nosso sistema político, tornando possível o sopro de novos ventos. Precisamos, urgentemente, arejar as estruturas políticas nacionais, sob pena de criarmos um vício letal. A democracia não deve correr alguns riscos políticos, pois não se brinca com a fúria bestial do poder desmiolado. Definitivamente, nosso país não merece o festival de imoralidades que estamos vendo. Ou será que aquilo que está ruim ainda pode ficar pior?
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