“In the midst of all the exactions of government, capital has been silently and gradually accumulated by the private frugality and good conduct of individuals, by their universal, continual, and uninterrupted effort to better their own condition. It is this effort, protected by law and allowed by liberty to exert itself in the manner that is most advantageous, which has maintained the progress of England towards opulence and improvement in almost all former times….” (Adam Smith)
Há um verdadeiro monstro rondando o capitalismo moderno, e em especial o pseudo-capitalismo tupiniquim. Ele se chama “Responsabilidade Social Corporativa” (RSC). Em síntese, esta idéia propõe que não é suficiente as empresas gerarem lucros para os seus acionistas, sendo necessário que elas orientem suas atividades visando ao interesse público. Há que ter responsabilidade social, seja lá o que queira dizer isso. O pior é que muitos executivos, mundo afora, comungam hoje dessa convicção.
Uma pesquisa realizada pelo “The Economist” junto a 1.500 delegados (a maior parte deles executivos) presentes ao Fórum Econômico de Davos, alguns anos atrás, descobriu que apenas 20% dos entrevistados consideravam a lucratividade o mais importante fator de medida do sucesso empresarial. O restante ficou dividido entre a qualidade do produto (o maior percentual) e generalidades tais como “reputação e integridade da marca”, “cidadania corporativa” e “responsabilidade social corporativa”, dentre outras.
A RSC apresenta-se hoje como uma indústria em si mesma, dispondo de websites, newsletters, associações profissionais, além de um sem número de consultorias especializadas. Os balanços e relatórios financeiros das grandes corporações apresentam, atualmente, páginas e mais páginas destinadas aos avanços na área da de RSC. Tudo isso seria muito bonito caso não configurasse uma enorme fraude. Sim, pois RSC nada mais é do que caridade com dinheiro alheio. Nas grandes companhias, os executivos e gerentes não são os seus donos. Eles nada mais são do que os gestores (muito bem remunerados) dos ativos que pertencem aos acionistas.
Milton Friedman, muito a propósito, dizia que “há uma e somente uma responsabilidade social nos negócios: utilizar bem os recursos e realizar atividades planejadas para incrementar os seus lucros, tudo dentro das regras do jogo, que equivale dizer, numa competição livre e aberta, sem qualquer ilusão ou fraude.” Já para o professor Walter Williams, “todo executivo é um empregado dos acionistas e dos consumidores. Quando os líderes empresariais (chamados CEO’s) não reconhecem esse fato e passam a dedicar-se a atividades não relacionadas à busca do lucro, o resultado é o baixo retorno dos investimentos, maiores preços e menor geração de riqueza.”
De fato, como previu Adam Smith, foi a busca pelo lucro e a expansão do modo de produção que possibilita e incentiva a busca pelo lucro que fez o mundo ocidental fantasticamente mais próspero do que qualquer um imaginaria há apenas 150 anos.
Baseada, de forma oportunista, na doutrina da Responsabilidade Social Corporativa, a ala bolivariana do Governo Lula acaba de apontar suas armas estatizantes contra a Companhia Vale do Rio Doce. Atingida em cheio pela crise de 2008, que reduziu drasticamente o comércio internacional de matérias primas, a direção daquela empresa, na tentativa de zelar pelo patrimônio dos seus acionistas, decidiu, acertadamente, reduzir investimentos programados e despesas correntes (inclusive pela demissão de funcionários), a fim de fazer frente à fortíssima queda da receita que se avizinhava e, de fato, ocorreu.
É difícil para um demagogo aceitar o fato de que o horizonte de longo prazo de uma empresa vai muito além das próximas eleições, normalmente o horizonte mais distante dos políticos em suas tomadas de decisão.
Antes de qualquer outra consideração, vamos a alguns números que demonstram, à saciedade, que, por qualquer lado que se olhe, a privatização da Vale é um sucesso estrondoso. A empresa hoje, administrada visando ao benefício dos seus acionistas – e não da sociedade ou do famigerado bem comum -, exibe números extraordinários, a começar pelo valor de mercado, que passou de US$ 8 bilhões para US$ 125 bilhões. Sua receita, em 2008, foi de US$ 38,5 bilhões, superior ao Produto Interno Bruto de alguns dos nossos vizinhos bolivarianos. Comparada à receita na época da privatização, em 1997, o aumento real, em dólares, foi de aproximadamente 8 vezes. Já o lucro foi multiplicado por 29, enquanto o número de empregos diretos subiu de 10 para 60 mil, sem contar outros cerca de 90 mil indiretos. Só de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro (fora PIS, Cofins, IPI, ICMS, etc), a Vale do Rio Doce paga o suficiente para bancar todo o programa Bolsa Família por um ano. Seus investimentos, segundo o Jornal O Globo na casa dos R$ 18 bilhões, abrangem todas as regiões do país, e sua rede de fornecedores chega a 10 mil empresas.
Ou seja, ainda que mirando exclusivamente os interesses de seus acionistas, a “contribuição para a sociedade” da companhia, contabilizada em termos de investimentos, criação de empregos e recolhimento de impostos – sem falar nos expressivos superávits comerciais (em 2006 a Vale foi responsável, sozinha, por 19% do superávit nacional), que ajudaram o governo a produzir um colchão de reservas de mais de 200 bilhões de dólares -, é infinitamente maior hoje do que era, quando a empresa era estatal.
Se gestão da atual direção é um retumbante sucesso, como mostram os números acima, ela não esteve isenta de graves erros, e o principal deles foi achar que a “amizade colorida” com o governo era sinônimo de blindagem contra o intervencionismo ou contra a sanha “bolivariana” estatizante que tomou conta da América Latina. Agora, com a corda no pescoço, o senhor Agnelli, presidente da empresa, parece ainda mais perdido, querendo justamente aumentar a dose do remédio que já se mostrou ineficaz.
Como bem resumiu a colunista Mirian Leitão, “Em vez de se preocupar em prestar contas de todo esse imbróglio aos seus milhares de acionistas nacionais e estrangeiros, na Bolsa de Nova Iorque ou na Bovespa, aos trabalhadores que usaram seus recursos de FGTS para apostar na companhia, Roger Agnelli pega um avião e voa para Brasília para pedir uma audiência — que lhe foi negada — com o presidente da República. Ou vai ao presidente da Câmara, Michel Temer, do notório PMDB, para explicar não se sabe o quê. Roger Agnelli deve explicações e informações aos acionistas minoritários, tanto sobre suas decisões como administrador, quanto sobre as pressões que vem sofrendo do governo Federal. Se acha que o acerto será feito com conversas de bastidores no Palácio do Planalto, que seu cargo será confirmado por favor presidencial, então ele entrou num jogo que vai derrotar a empresa.”
Sábias palavras!
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