Ainda não sei quantas famílias serão despedaçadas pela estupidez das mortes do trânsito; todo final de semana, os fatos se repetem; pais e mães choram a perda precoce de uma jovem vida que se foi; alguns se vão por irresponsabilidade própria, enquanto outros são engolfados pelo trago alheio; no fim, todos são vítimas da cumplicidade do Estado. Sim, as autoridades estatais fazem muito pouco para resolver a questão; se omitem, fazem campanhas efêmeras, prometem o irrealizável, tornando-se cúmplices de uma tragédia que, definitivamente, tem que terminar.
Primeiro, esqueça as propostas faraônicas de que nossas cidades serão revolucionadas por linhas de metrô de Norte a Sul, Leste a Oeste. Talvez isso realmente algum dia aconteça; depois de muitos contratos superfaturados, empresas-fantasmas, negociatas, laranjas, subornos e fraudes de toda ordem, pode ser que lá pelo ano de 2100, em uma visão otimista, tenhamos algumas linhas de metrô correndo pelos principais centros brasileiros. Mas será que até esse milagre acontecer teremos que ficar assistindo à dor de famílias ceifadas pelo caos do trânsito? Será que os governos não poderiam estar fazendo mais? E, se mais não podem, pelo menos não poderiam estar fazendo melhor?
Deixando as perguntas de lado, precisamos nos preocupar com as respostas. E o fato é que algumas medidas são extremamente simples; basta querer; basta ter espírito público; basta governar para o bem; basta ser político e deixar de ser politiqueiro. Por exemplo, a cidade de Nova York adotou uma política de transporte interessante: entre 23h e 5h da manhã, os ônibus podem parar em qualquer local a pedido do passageiro; com relação à insegurança brasileira, poderíamos colocar um policial militar em cada linha especial; como nas madrugadas não há problema de congestionamentos, rotas alternativas e inteligentes poderiam ser criadas para bem atender a coletividade; além disso, os táxis, nos finais de semana, poderiam ter valores subsidiados e fixos, de forma a demonstrar que o poder público está engajado na preservação da vida. Enfim, se é possível, por que não fazem?
Infelizmente, parece que os governos não têm tempo para assuntos relevantes. Ao invés de soluções, são apresentados paliativos. As blitze da madrugada e a Lei Seca não vão resolver, e não vão resolver porque são medidas repressivas: incidem quando o camarada já bebeu e já botou o carro na rua, ou seja, o risco de acidentes já está materializado. A repressão é logicamente importante e necessária, mas precisamos mesmo é de medidas preventivas que persuadam o motorista a não pegar no volante se for beber. E o camarada só vai deixar o carro em casa se tiver alternativas atraentes e viáveis. Com um transporte público de baixa qualidade, inseguro e caro, vamos continuar assistindo à carnificina do trânsito. Até quando o bem da vida será desprezado?
Fonte: Zero Hora, 01/12/2011
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