Uma das consequências do baixo crescimento é que a recuperação da economia não é disseminada entre os setores. Uns poucos conseguem ter bom desempenho em meio ao marasmo e até contração de outros tantos.
Alguns setores são menos sensíveis ao ciclo econômico doméstico e contribuem para a resiliência da economia. É o caso das exportações. Se, por um lado, o comércio mundial estagnado afeta o volume exportado e os preços das exportações em dólar, por outro, o aumento da cotação do dólar preserva e até infla sua rentabilidade. Os preços de exportação em reais subiram 20,4% em 2018 e 6,3% no acumulado até julho. Vale citar que o dólar forte, em boa medida, resulta da própria fraqueza do comércio mundial, que penaliza comparativamente menos o EUA.
Nesse grupo, a agropecuária tem também se beneficiado da combinação da guerra comercial entre EUA e China e da peste suína na China. No ano passado, o volume exportado aumentou 16% e até julho deste ano, 3,5%. Os preços dos produtos exportados em reais tiveram modesto recuo até julho, de 2%, mas depois de subirem 17% no ano passado.
Além disso, a agropecuária, bem como os demais exportadores de commodities, sofre menos com o custo Brasil, em que pese a infraestrutura precária e a questão ambiental ainda mal resolvida. Destacam-se a carga tributária mais baixa e a menor utilização de mão de obra.
Esses setores, no entanto, têm baixo peso no PIB e reduzido impacto nas cadeias produtivas. Seu dinamismo é boa notícia para as regiões exportadoras (e para a balança comercial), mas pouco estimula o crescimento.
O economista sênior da XP, Marcos Ross, calculou índices de centralidade para os setores da economia com base nos dados do IBGE (consumo Intermediário dos setores com base nas tabelas de Insumo-Produto de 2010). Essas são métricas que visam a quantificar a importância total (direta e indireta) de um setor na economia. A conclusão é que a agropecuária e a indústria extrativa têm reduzido peso nas cadeias produtivas (8,3% somadas), pouco acima do reduzido peso no PIB (7,5%).
Há setores mais sensíveis ao quadro doméstico, que se beneficiam mais rapidamente e intensamente do corte de juros e a consequente recuperação do crédito. O destaque é a venda de automóveis. A boa notícia é que tem-se observado uma maior disseminação no aumento das vendas do varejo, o que é promissor.
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Mais recentemente, a construção civil deu sinal de recuperação. O desempenho não é uniforme. Aparentemente, as moradias para alta renda ganham ímpeto, enquanto o segmento comercial ao menos completou seu ciclo de retração. O aumento do crédito imobiliário e a flexibilização de regras do setor são os principais condicionantes. Já a construção pesada tem um longo caminho pela frente, principalmente com mudança de marcos regulatórios e redução de insegurança jurídica. As concessões de infraestrutura avançam, mas há apetite bem menor para projetos novos.
Aqui mais uma limitação. O setor de construção também não é “puxador” de PIB. Nos cálculos de Ross, o impacto na economia (3,1%) é inferior ao próprio peso no PIB (5,3%).
Os puxadores de PIB são a indústria de transformação e alguns serviços. A influência da indústria na economia (26,8%) é muito maior que seu peso no PIB (10,3%). No setor de serviços, os puxadores são transportes e serviços de informação, somando 15,7%, acima dos 7% dos pesos somados no PIB.
A indústria, bem como os serviços, pouco cresce, sendo que não se nota aumento da disseminação na recuperação de ambos. O problema é estrutural, de falta de competitividade, impactando segmentos de serviços atrelados a ela. O aumento da demanda de consumidores tem pouco beneficiado o setor. É o caso da construção civil. Pelos nossos cálculos, sua recuperação tem gerado mais aumento da importação do que da produção doméstica de insumos.
Aqui mora o perigo. Os setores que mais influenciam a dinâmica econômica estão tendo pior performance. A economia poderá ganhar tração, mas muito lentamente.
Fonte: “O Estado de São Paulo”, 19/9/2019