O discurso que o primeiro-ministro de Israel Binyamin “Bibi” Netanyahu fez no domingo, 14 de junho, na Universidade Bar Ilan, próxima a Tel Aviv, foi um balde de água fria naqueles que acreditavam no reinício do processo de paz com os palestinos. Direitista de carreira, “Bibi” vinha sendo pressionado pelos EUA de Obama para aceitar a “solução dos dois Estados”. A idéia é que Israel recue para as fronteiras pré-1967, dê uma freada nos assentamentos judeus na Cisjordânia e acate a fundação de um Estado Palestino.
Em seu encontro com o presidente norte-americano em maio, “Bibi” deu a entender que daria o primeiro passo, abraçando a “solução dos dois Estados” e reiniciando, assim, o processo de paz. O problema é que “Bibi” resolveu propor tudo isso à sua maneira, isto é, dizer desdizendo.
Basicamente, “Bibi” disse que, sim, apoiaria a fundação de um Estado Palestino, desde que seja um Estado desmilitarizado. Sabe quantos Estados desmilitarizados existem no mundo? Zero. Nenhum. Outra condição imposta é a de que Jerusalém continue sendo a capital indivisível de Israel, coisa que os árabes jamais aceitarão. Na melhor das hipóteses, eles aceitam que a cidade seja dividida (coisa que, na prática, já é) e se torne, também, a capital do futuro Estado Palestino.
A reação dos árabes em geral e dos palestinos em particular ao discurso foi previsível: acharam, para dizer pouco, que se trata de uma piada. Para eles, o que “Bibi” está fazendo é propor que israelenses e palestinos se sentem para conversar com uma série de condições pré-estabelecidas e impraticáveis. Em outras palavras, ele trava o processo antes mesmo de ele (re)começar.
Ironicamente, Obama mandou seu porta-voz dizer que achou o discurso algo como “um passo importante para a paz” ou coisa que o valha, talvez emocionado por ouvir da boca de um conservador as palavras “dois Estados”. Obama, por mais que fale bonito (vide seu discurso no Cairo, semanas atrás) e tenha as melhores intenções, não parece saber muito bem o que é ou como funciona o Oriente Médio.
Se, por um lado, “Bibi” parece estar fazendo jogo de cena para ganhar tempo sem ficar mal com Washington, a verdade é que, por outro lado, os palestinos estão, para variar, em péssimos lençóis. Não têm, por exemplo, um líder ou uma agremiação forte que possa negociar em nome de todos eles. A Autoridade Palestina quer uma coisa, o Fatah quer outra, a Liga Árabe quer uma terceira coisa e o Hamas, bem, o Hamas quer varrer Israel do mapa e ponto final.
Olhando por esse ângulo, a jogada política de “Bibi” é compreensível. Como e a quem propor um plano de paz? Porque é impossível esboçar uma proposta diferente para cada interlocutor palestino ou árabe e, ao fim, esperar que todos fiquem satisfeitos.
Impressão que fica é a de que “Bibi” está ganhando tempo, ainda que à maneira dele (isto é, irritando meio mundo), enquanto o caos vivido pelo Irã após as eleições não se resolve e Obama não diz, de fato, a que veio. Não há outra solução senão esperar, ainda que uma ofensiva contra o Irã, caso a reeleição de Ahmadinejad seja confirmada, pareça inevitável. Mas isto é assunto para um outro artigo.
Talvez Bibi esteja irritando meio mundo ou mais, mas aí é que mora o perigo.
Me parece que ao elegerem Jerusalem como a capital de seu país, os palestinos deveriam irritar todo o mundo, porque comparada à importancia da Cidade Santa para o judaísmo, sua importancia para o Islã é ínfima.
Talvez meio mundo irritado não saiba onde foram construídas as mesquitas sagradas de Jerusalem .Talvez o colunista não se irrite com a profanação não acidental do local mais sagrado para o judaímo. Talvez Bibi dê uma banana para todos que o julgam mais direitista que os dirigentes radicais islâmicos e suas ditaduras de ” esquerda ” . E esse é o problema da proporcionalidade – meio mundo, todo o mundo , mas de quem exatamente estamos falando ?