Sabe-se que a evolução do investimento direto estrangeiro (IDE) é muito dependente da situação geopolítica e econômica dos países. No caso brasileiro, não é diferente. Até 1982, os investimentos das empresas brasileiras no exterior eram realizados pela Petrobras, pelas instituições financeiras e pelas empresas de construção. Começou a evoluir a partir desta data, e no final dos anos 80 e início dos anos 90 ocorreu o aumento do investimento do setor industrial. Mas foi com o Plano Real, o marco de virada na economia, o qual exigiu das empresas uma profunda reestruturação para competir, que houve uma maior diversificação de setores, porte de empresas e destinos geográficos do investimentos brasileiro no exterior, dentro do contexto dos blocos econômicos (Mercosul, NAFTA, União Europeia, etc) e do avanço da globalização. Em 2006, os investimentos brasileiros no exterior atingiram um nível jamais visto: ultrapassaram os investimentos estrangeiros no Brasil.
Na atualidade, algumas multinacionais brasileiras figuram entre as maiores do mundo. A Vale do Rio Doce é a segunda mineradora e a primeira em mineração de ferro; a Petrobras é a quarta empresa petrolífera do mundo e a quinta empresa global por seu valor de mercado; a Embraer é a terceira empresa aeronáutica, atrás apenas da Boeing e da Airbus; o JBS Friboi é o primeiro frigorífico de carne de gado bovino do mundo; a Braskem é a oitava petroquímica do planeta. E poderia-se seguir com a lista. Com um fato importante: assim o são pelas suas estratégias acertadas, em termos de recursos humanos, tecnologia, mercados, etc, sem arcar com quase nenhum recurso público, indispensável para outros serviços básicos.
Assim, o planeamento governamental excessivo é questionado quanto à sua eficácia, já que são os empreendedores que realmente estão no terreno, o que ficou claro na crise dos anos 80. O Estado pode ser importante na consecução de políticas coordenadas com o mercado, designadamente no fortalecimento dos fundamentos macroeconômicos e de instituições como o sistema judiciário e educacional; de estímulo à competitividade nacional como, por exemplo, na definição de compras governamentais e na formação de clusters. A criação de novas estatais deve ser vista com extremo cuidado, sob condições muito específicas e controle rígido, sob pena até de perder muito do que foi alcançado até aqui em termos de competitividade e estabilidade econômica. Na política, se não houver bom senso e responsabilidade com o povo, a servir apenas grupos de interesses e lobbies, pode inclusive colocar em grande perigo todo um sistema de valores, conhecimento e material já adquiridos com muito trabalho e sacrifício.
Em relação aos investimentos das empresas do Brasil no exterior, o quadro abaixo relaciona o Brasil com alguns países selecionados, em termos de estoque de IDE.
Percebemos que o Brasil, mesmo a investir sistematicamente no exterior a partir dos anos 2000, possui estoque de IDE comparável não apenas aos BRICs, como também a países como Noruega, Finlândia, Portugal, Irlanda e Áustria.
Em termos monetários, o IDE brasileiro no exterior é destinado fundamentalmente ao setor terciário. Entretanto, como grande parte é destinado aos paraísos fiscais, tanto o destino geográfico quanto os setores envolvidos podem ser bastante diferentes.
Quanto às motivações das empresas brasileiras em investir no exterior, na tese colocamos uma revisão de literatura exaustiva sobre o tema. Por exemplo, um estudo da Fundação Dom Cabral em 2007 constatou que cerca de 885 empresas brasileiras investem em 52 países distintos, e na atualidade contabilizamos mais de 1000. De acordo com este estudo, os principais motivos que justificariam a forte expansão seriam a aproximação e ampliação dos mercados de consumo, a valorização da moeda nacional (R$) e a valorização da marca. No total, 885 empresas brasileiras investem em 52 países, o que indica que também o avanço das pequenas e médias empresas.
Através deste artigo, percebe-se nitidamente traços de um país mais maduro e, por isso, com maiores responsabilidades, pois esta é acrescida com o conhecimento e a experiência. Por suas raízes históricas e culturais, vemos que o país tem potencialidades para contribuir na construção do mundo que sonhamos: o Brasil é o país da máxima liberdade, em que todas as ideologias, suportáveis com o mínimo da ética e da ordem indispensável, são toleradas. O Brasil é crente e espiritualista, qualquer que seja a religião que se professe. É um país pacífico que não pensa em fazer guerra com ninguém. Onde se misturam todas as raças, com seu sentimentalismo acolhedor e tolerante, com seu espírito anti-exclusivista e antirracista. As empresas brasileiras no exterior poderão dar o seu contributo também no sentido de colocar estes valores, em conjunto com os de outras nacionalidades, pois a fusão, e não o isolamento, sob vários sentidos, são inerentes à alma deste país, e isto ficará cada vez mais claro com o tempo: ordem e progresso, com o auxílio de todos.
No Comment! Be the first one.