Ainda não é possível saber se a convocação da CPI reunida em Brasília para investigar as ligações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos de um punhado de partidos deve ser vista como a utilização do recurso certo na hora errada ou do recurso errado na hora certa.
Seja como for, a sensação é a de que os senhores senadores e deputados que revolvem o tema não conseguirão avançar um centímetro além do silêncio de depoentes que se recusam a falar.
Também não conseguirão tirar algo novo dos trechos das gravações feitas pela arapongagem federal e já divulgadas pela imprensa. Ou seja, a CPI anda em círculos.
Cada dia de trabalho deixa mais claro que a “investigação” tornou-se um jogo estéril no qual atos de natureza idêntica podem ser atacados ou defendidos em plenário, dependendo da agremiação do político que estiver na berlinda.
Da forma como vem sendo conduzida, a CPI se tornou uma câmara de compensação de denúncias velhas e conhecidas. A convocação de um governador eleito por um partido de oposição é paga com a convocação de outro, eleito pelo partido do governo. Olho por olho…
Vamos parar e refletir um pouco: que contribuição efetiva as presenças de Marconi Perillo, do PSDB, de Agnelo Queiroz, do PT, convocados ontem, poderão dar às investigações em curso?
Rigorosamente, nenhuma. Os dois demonstrarão diante da CPI a mesma segurança de Demóstenes Torres, inquirido esta semana pela Comissão de Ética do Senado. Serão expostos a uma bateria de perguntas previsíveis e terão, como é de seu direito, a chance de mostrar seu lado da história.
No mais, apresentarão o desconhecimento cândido das atividades ilegais de Cachoeira como justificativa para os eventuais contratos que seus governos tenham celebrado com ele e, se for o caso, mostrarão documentos que comprovarão a lisura do relacionamento que porventura mantiveram não com o “bicheiro” mas com o “empresário”.
Com relação ao sigilo bancário, fiscal e telefônico de Demóstenes Torres, quebrado ontem pela CPI, o raciocínio é exatamente o mesmo.
Se o senador é mesmo esse gênio do mal que andam dizendo – e que até a conta de seu rádio de comunicação é paga pelo amigo Cachoeira -, seria uma prova de ingenuidade cavalar supor que ele fosse capaz de guardar um centavo ganho ilegalmente numa conta que esteja ao alcance dos parlamentares da CPI.
Daí também não sairá nada, mas, como diriam Roberto e Erasmo, isso “quase também é mais um detalhe”.
A menos que alguém surja com alguma carta na manga (o que é menos provável do que a absolvição de Demóstenes Torres no plenário do Senado), esta CPI já pode ser dada por concluída.
O destino da CPI, neste momento, é o de seguir o curso mais previsível e terminar apenas com as esperadas punições ao ainda senador Demóstenes, à Delta e a Cachoeira. Isso (como já foi dito aqui mais de uma vez) é o máximo a se esperar da Comissão.
Que, no final, legará a frustração de que não se pode esperar de uma CPI nada além do previsível e que, quando se trata de corrupção, o que o Congresso faz é fingir que investiga para ver se cola…
Fonte: Brasil Econômico, 31/05/2012
Conclusão mesmo só quando Demostenes estiver atrás das grades e não deixarmos ele ser ministro do STF como queria ou como vice pelo DEM na chapa de Aécio Cocaína 2014. Ainda tem muito a que se apurar