Muito se disse a respeito da entrada em cena do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada, em socorro da presidente Dilma Rousseff. Lula resolveu agir diante do bombardeio que desabou sobre o Planalto desde que veio a público o caso das contas pessoais do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.
Como é frequente nesses casos, houve quem confundisse o remédio com a doença e passasse a atribuir a Dilma uma fragilidade que não é dela, mas do próprio sistema político brasileiro.
Senhoras e senhores: a presença de Lula em cena foi uma maneira mais simples, e, sob um determinado ponto de vista, até barata de conter o ímpeto dos que já queriam pressionar a presidente com o objetivo de conseguir algo além do que já têm.
A presença de Lula mostrou que eles ainda não pagaram tudo o que deviam em troca das facilidades que tiveram na eleições de 2010. Se alguém tem algo a cobrar, ainda é Lula.
O caso Palocci, é claro, precisa ser explicado, elucidado e esquecido. Mas a declaração de bens do ministro não é causa real, apenas pretexto do quiproquó. Palocci poderia ser visto como causa se e apenas se Dilma tivesse contra si uma oposição organizada e ativa.
Felizmente para ela e infelizmente para o país, no Brasil esse papel cabe ao PSDB – que só faria melhor caso conseguisse o milagre de reunir novamente o quarteto Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.
Como ressuscitar Os Trapalhões originais é impossível, os tucanos vão inovando ao ser o único partido do mundo capaz de fazer oposição sem jamais incomodar o governo.
No final, mesmo com a intervenção de Lula, Palocci pode não aguentar o tranco e é até mais provável que não aguente. Mesmo que, ao final de tudo, fique comprovado que a multiplicação de seu patrimônio pessoal não se deve a práticas heterodoxas, pode não haver clima para sua permanência.
Palocci não terá sido o primeiro a cair em função da impossibilidade de o governo entregar tudo o que as “forças políticas” exigem quando percebem que estão diante de alguém que o governo parece fazer questão de conservar.
Esse é e continuará sendo o preço pelo fato de líderes com altíssimo patrimônio político, como foi Fernando Henrique Cardoso em seu primeiro mandato e Lula no segundo, jamais terem se mostrado dispostos a gastar parte de seu capital para promover uma reforma política profunda.
Com o sistema que temos, senhoras e senhores, a crise atual foi apenas a primeira das muitas que haverá no governo Dilma. Outras virão e todas terão o mesmo desfecho: a concessão de favores em troca de um armistício.
O Brasil precisa de uma reforma política que altere os critérios de proporcionalidade para a escolha dos deputados federais, que dificulte a formação de partidos políticos, que adote o voto distrital misto e dê transparência real ao financiamento de campanha.
Sem isso, Lula terá que entrar em cena muitas vezes para mostrar aos aliados que, por ele ter sabido jogar o jogo com maestria, eles estão onde estão.
Fonte: Brasil Econômico, 31/05/2011
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