Quem se guiar pelas palavras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva jamais saberá se Joaquim Levy deve permanecer no Ministério da Fazenda ou se está com o “prazo de validade vencido”. Naquilo que depender de Lula, ninguém saberá se o ajuste fiscal defendido por Levy é indispensável (mesmo não tendo sido esse o compromisso que garantiu a reeleição de Dilma Rousseff) ou se representa um retrocesso em relação a tudo o que o PT teria legado ao país. Lula tem um discurso para os militantes do PT e outro para os sindicalistas do interior do Piauí. Fala uma coisa para os convidados de seu aniversário de 70 anos e muda de ideia diante da primeira plateia de empresários que encontra pela frente. Tem sido assim nos últimos tempos.
O ex-presidente sempre busca o discurso mais conveniente para cada situação com a qual se depara e, nesse ponto, está perfeitamente sintonizado com todo o PT. Dias atrás, o partido tratava o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, como um Judas no Sábado de Aleluia. Agora, tudo mudou e — a despeito das contas na Suíça — o PT pede que Cunha não seja “prejulgado”. São cenas de um ambiente político onde a coerência cedeu lugar ao oportunismo. De um país cujo governo, quanto mais fala em ajuste fiscal mais torra o dinheiro do povo. De um parlamento em que o líder do governo defende uma posição e o líder do partido desse mesmo governo defende outra. Exagero? Nada disso!
Camiseta vermelha
Na quarta-feira passada, por exemplo, o Senado votou a Lei Antiterrorismo. Elaborado pelo governo, o texto havia passado pela Câmara em agosto e sofrido alterações que eliminaram sua razão de existir. Pela visão dos deputados, na prática, se o companheiro vestir camiseta vermelha e usar máscara em manifestações de rua, ele pode jogar bombas, depredar o patrimônio, agredir e até matar que jamais poderá ser acusado de terrorista.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa, queria que os “ativistas” fossem mantidos longe do alcance da lei e orientou sua bancada a manter o texto conforme ele veio da Câmara. Só que o líder do governo, Delcídio Amaral, também do PT, queria o texto que define terrorismo como o crime “motivado por extremismo político” e por outras situações de intolerância. No final, prevaleceu opinião de Amaral, mas isso não encerra a discussão.
Detalhe irrelevante
Foi mais um passo de barata tonta no bolero desafinado que o governo tem posto o país para dançar. E, pior, reflete a falta de compreensão dos políticos diante da gravidade da situação. A comunidade internacional trata quem não trata o terrorismo com rigor com uma mistura de preocupação e desprezo. E os países que não dispõem de uma lei Antiterror costumam ser mal avaliados pelas agências que calculam o risco oferecido pelo país aos investidores internacionais.
Num momento em que o prestígio do Brasil está baixo e que uma classificação negativa pode piorar ainda mais um ambiente econômico, a lei poderia ser um sinal positivo. Para os petistas, porém, a saúde da economia parece um detalhe irrelevante, uma preocupação restrita aos ”coxinhas” e às elites conservadoras. Enquanto essa mentalidade prevalecer, não adianta Levy falar em ajuste nem o Banco Central aumentar os juros. A economia seguirá de mal a pior e, para encará-la sem preocupação, só mesmo alguém, com a volatilidade mental de Lula.
Fonte: Hoje em Dia, 01/11/2015.
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