Uma boa causa para se viver
O atual sistema político está esgotado; suas instituições envelheceram e não se mostram mais capazes de responder, com eficácia, ao dinamismo da vida moderna; nossos políticos, por seu turno, não passam de empregados do poder, mais preocupados em manter privilégios caducos e pouco dispostos a lembrar daquele desconhecido chamado povo. Já os partidos são entidades falidas; aliás, só não sumiram do mapa porque recebem fortunas do fundo partidário, valendo-se de uma triste reminiscência do regime militar. Por tudo, estamos vendo o decadente desfile de carroças políticas em uma época de informação digital.
A importância da cidadania consciente
Mundo afora florescem exemplos do ruir das velhas estruturas. Há sinais palpáveis de que as mudanças institucionais serão capitaneadas pela força da cidadania consciente, que, unida em torno de pautas pontuais, inicia ondas democráticas irrefreáveis sobre o sistema estabelecido. Ou seja, antes esperávamos o agir da política; agora, é a política que espera por nós. Tal circunstância traduz uma autêntica ruptura nas regras do jogo.
No modelo antigo, bastava comprar os caciques partidários e sua claque de parasitas servis. Uns eram mais caros que outros e, claro, nem todos eram venais. Mas, em uma democracia de balcão, basta ter a maioria eventual, até o surgir de um novo negócio rentável a corruptos e corruptores. Em outras palavras, a política de coalizão é uma forma de fatiamento indecoroso das instituições democráticas. Sim, o jogo é sujo e, no mais da vezes, desenvolve-se por linhas invisíveis. Todavia, o advento da era da informação trouxe consigo uma instantânea exposição das estruturas do poder. E, quando o oculto torna-se exposto, a mentira falada é incapaz de calar a verdade dos fatos.
Tecnologia e participação política
Quer dizer, então, que a tecnologia, suas redes sociais e a iniciativa de minorias cívicas organizadas poderão romper com o corrente sistema gangrenado?
Sim, parece que o mundo moderno abre uma janela de oportunidade à política democrática, colocando a força da cidadania ativa no centro das iniciativas de poder. Nesse modelo em construção, é provável que tenhamos um aumento da tensão entre a classe política estabelecida e a opinião pública reformadora. O choque do pensamento crítico independente com a insustentável leviandade da política recolocará o conceito e a finalidade da democracia na ordem do dia, forçando a remodelação das estruturas viciadas.
Por assim ser, além da capacidade de diálogo, precisaremos de líderes conscientes de que a sociedade não muda da noite para o dia. O fundamental é fazer o certo hoje para termos um amanhã superior. Em nossa trajetória de futuro, se faz cogente optarmos, sem rodeios, pelo caminho da decência, da integridade e da seriedade condutas. Não existe nação próspera sem um firme código de honra. A democracia só é possível quando há verdade na ação política, pois enganar o cidadão é a traição de sua essência.
Não será fácil mudar o Brasil, mas essa é uma causa que vale a pena viver.
Fonte: “O Estado de Minas”, 25 de outubro de 2016.
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