Comparando as empresas listadas entre as 500 maiores da revista ‘Fortune’ de 1955 (primeiro ano da publicação) com a mesma lista de 2019, existem apenas 52 companhias que aparecem em ambas. Em outras palavras, apenas 10,4% das empresas permaneceram na lista durante esses 64 anos, enquanto mais de 89% faliram, se fundiram com (ou foram adquiridas por) outra empresa, ou ainda existem, mas caíram e não estão mais ranqueadas entre as 500 maiores (classificadas pela receita total).
No mesmo diapasão, de acordo com um relatório de 2016 da Innosight (“Longevidade Corporativa: Turbulência à Frente para Grandes Organizações”), as corporações do “S & P 500 Index”, em 1965, permaneciam no índice por uma média de 33 anos. Em 1990, o prazo médio de permanência no havia diminuído para 20 anos e agora está previsto que encolha para 14 anos, até 2026. No atual passo, cerca de metade das atuais empresas do “S & P 500” serão substituídas nos próximos 10 anos.
Apesar de todas as evidências, muitos economistas e analistas, influenciados pela leitura marxista da economia, insistem que o capitalismo é concentrador e tende para o monopólio. Nada poderia ser mais equivocado. Monopólios e oligopólios só prosperam quando os governos interferem no livre jogo do mercado para, direta ou indiretamente, protegê-los da competição e da tão temida “destruição criadora”. Quando a concorrência é permitida e incentivada, o que se vê é uma “gangorra” alucinante, em que empresas nascem e morrem numa velocidade muitas vezes frenética.
Um dos motores do desenvolvimento econômico é o processo apelidado pelo austro-húngaro Joseph Schumpeter de “destruição criadora”. Sua origem está no mecanismo virtuoso da concorrência e no espírito empreendedor, que induzem indivíduos e empresas a inovar, experimentar e criar. No interior desse processo, produtos obsoletos e métodos de produção ineficientes vão sendo constantemente substituídos por novos produtos, novas fontes de matérias primas e técnicas inovadoras.
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Para Schumpeter, o principal combustível do progresso é o avanço tecnológico, do qual decorrem, de forma contínua, “novos bens de consumo, novos métodos de produção ou transporte, novos mercados e novas formas de organização industrial”. Segundo o economista, a concorrência estimula a inovação, que, por sua vez, provoca a obsolescência de velhos conceitos e estruturas. É nesse ambiente, não raro bastante hostil, que precisam viver (e adaptar-se) todas as empresas.
A história do século XX e o imenso desenvolvimento experimentado pelas economias ocidentais, contraposto à estagnação econômica dos países comunistas, mostrou que Schumpeter tinha razão. Entretanto, enquanto alguns compreendem os fantásticos benefícios derivados da “destruição criadora”, muitos ainda teimam em rechaçá-la, especialmente aqueles que, influenciados pela retórica romântica e oportunista de alguns setores da esquerda, preservam a falsa ideia de que a função prioritária de uma empresa é gerar (ou manter) empregos.
Empresas existem com o objetivo de gerar lucro aos seus acionistas, o que só é possível através da inversão de poupança em investimento de risco e do atendimento eficiente das necessidades e desejos dos consumidores. A geração de empregos e o incremento dos salários são conseqüências virtuosas e desejáveis da busca pelo lucro e surgem somente em função da competitividade, das demandas do mercado e do incremento da produtividade. É um erro gravíssimo pensar em empregos como fins em si mesmos. Eles são meramente meios, fatores de produção como outros, sujeitos à inexorável lei da oferta e da demanda.
Numa economia de mercado, novas empresas nascem e prosperam muitas vezes conquistando espaços antes ocupados por seus competidores. Tentar proteger os mercados, as receitas, os empregos ou os lucros de empresas estabelecidas acaba por obstruir o processo natural rumo ao progresso. Compreender isso significa dar boas vindas tanto à criação de novas quanto à extinção de velhas empresas, pois só assim teremos certeza de que o mercado estará substituindo o que é obsoleto, ultrapassado, pelo que é superior.
Pode parecer cruel, especialmente para os que serão diretamente afetados pela eventual falência de uma empresa, mas para o bem da economia devemos repudiar com firmeza as tentativas políticas, jurídicas ou burocráticas de colocar dinheiro público para salvá-las. Numa economia de mercado, a “morte” de uma empresa abre caminho para outras melhores que virão. Vejam, por exemplo, as impressionantes listas de companhias “defuntas”, nos ramos de aviação, fabricantes de veículos, lojas de departamento e de varejo, só nos Estados Unidos – reparem que algumas delas já foram outrora consideradas gigantes oligopolistas, o que não evitou que sucumbissem frente à concorrência.
Por isso, as empresas (sejam mercantis, industriais, financeiras ou de serviços) precisam estar constantemente inovando, revendo métodos de produção, reduzindo custos operacionais e oferecendo melhores produtos e preços, caso não queiram afundar no pantanoso gosto do consumidor.
Como consumidores, somos os beneficiários finais da destruição criadora, que impulsiona o dinamismo da economia de mercado e resulta em uma agitação constante das empresas para atrair o maior volume possível de nosso dinheiro.