Há anos ouvimos e lemos que os Correios encontram-se em situação econômica crítica, com prejuízos constantes, administração caótica e qualidade dos serviços ladeira abaixo. Hoje em dia, quem pode corre dos Correios em direção a empresas mais eficientes e econômicas. E quem não pode, sofre com os constantes atrasos e extravios.
Apesar disso, são constantes as greves dos seus funcionários, pelos mais variados motivos e reivindicações. Ontem (17), por exemplo, eles entraram em greve. Só neste ano, já é a terceira greve, e em 2017 houve outras tantas. Ninguém liga mais.
Na maioria das vezes, tais greves são por benefícios impensáveis na iniciativa privada, principalmente em empresas com dificuldades financeiras.
Reparem na faixa acima, aberta durante uma greve de 2017. Um dos slogans mais repetidos pelos grevistas de empresas públicas, independentemente da situação financeira em que se encontrem, é: “Nenhum direito a menos”. Trata-se de uma frase absolutamente impensável numa empresa privada em situação semelhante.
Faça o seguinte exercício intelectual: suponha que, ao invés de funcionários dos Correios, estivessem ali reunidos os empregados da Avianca, empresa aérea que acaba de pedir recuperação judicial. Aquilo faria algum sentido pra você?
A resposta é óbvia: não faz qualquer sentido. A Avianca é uma empresa privada, com acionistas privados e trabalhadores privados. Quando uma empresa privada entra em dificuldades, o leque de possibilidades é amplo: vai desde o ajuste e recuperação até o fechamento total e a demissão de toda a força de trabalho. Mas a opção de receber aportes do governo para mantê-la funcionando não existe – ou pelo menos não deveria existir.
Claro, pode haver conflitos trabalhistas, manifestações e greves, porém, provavelmente por conta de salários atrasados ou demissões em massa, nunca por melhores salários, vantagens ou por “nenhum direito a menos”. Na verdade, os empregados da Avianca devem estar hoje dispostos até a abrir mão de certos benefícios para manter seus empregos.
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As reivindicações expressas naquela faixa só fazem sentido porque os Correios são uma empresa pública, dirigida desde sempre por políticos e burocratas, com cujos sindicatos de trabalhadores eles mantêm uma relação umbilical.
O simbolismo daquela faixa é notável: significa que a empresa pública não é realmente uma iniciativa empreendedora, sujeita às leis do mercado, mas apenas um braço da política, e, em qualquer caso, será sempre dependente da boa vontade de políticos e burocratas, não das escolhas dos consumidores. Seus prejuízos e ineficiências nunca serão suportados pelos acionistas e gestores, mas pelos consumidores e contribuintes.