“A unanimidade é burra.” (Nelson Rodrigues)
Ninguém insiste tanto na conformidade como aqueles que advogam “diversidade”. Sob o manto de um discurso progressista jaz muitas vezes um autoritarismo típico de pessoas que gostariam, no fundo, de um mundo uniforme, onde todos rezam o mesmo credo. “A Utopia”, de More, a “Cidade do Sol”, de Campanella, “A República” platônica, enfim, “um mundo melhor é possível”. Se ao menos todos abandonassem o egoísmo, a ganância, e se tornassem almas conscientes e engajadas…
Mesmo se for preciso “forçar o indivíduo a ser livre”, como defendeu Rousseau, esse parece um preço aceitável a se pagar pelo sonhado “progresso”. Foi com base nesta mentalidade que milhões de inocentes foram sacrificados no altar de ideologias coletivistas. Atualmente, os “progressistas” buscaram refúgio em novas seitas, mas a meta continua a mesma: “purificar” a humanidade e criar um paraíso terrestre onde todos serão igualmente “felizes” e “saudáveis”.
A obsessão pela saúde e pela felicidade, assim como a ditadura do politicamente correto são claramente sintomas da modernidade. Vivemos na era da covardia, onde poucos têm coragem de se levantar contra o rebanho. Estamos sob o controle dos eufemismos, com a linguagem sendo obliterada para proteger os mais “sensíveis”. Todos são “especiais”, o mesmo que dizer que ninguém o é. Chegamos à era do conformismo: ninguém pode desviar do padrão definido, pois as diferenças incomodam muito. Todos devem adotar a mesma cartilha “livre de preconceitos”.
Até mesmo o Papai Noel já foi vítima desta obtusa mentalidade. A obesidade é um problema de saúde preocupante no mundo. Um dos culpados? Sim, o Papai Noel. Um médico australiano chegou a afirmar que Papai Noel é um “pária da saúde pública”, e seria melhor se ele fosse retratado sem aquela “pança”, sua marca registrada. Afinal, o bom velhinho é um ícone da garotada, e no mundo atual não fica bem um barrigão daqueles influenciando as crianças. Papai Noel “sarado”, eis um típico sinal dos tempos.
Qualquer pessoa com mais de 30 anos deve recordar daqueles cigarros de chocolate que as crianças adoravam no passado. Isso seria impensável hoje em dia. Chocolate, e ainda por cima em forma de cigarro? Seria politicamente incorreto demais para o mundo moderno. Diriam que as crianças vulneráveis seriam fumantes compulsivas, tal como acusam filmes e jogos violentos pela violência.
Pensar na possibilidade de que os próprios pais devem educar seus filhos, impondo limites e dizendo “não”, parece algo estranho demais para os engenheiros sociais da atualidade. As “crianças mimadas”, os adultos modernos, preferem delegar a função ao governo, que será responsável pela “pureza” das propagandas. Quem precisa de liberdade de escolha quando se tem o governo para controlar nossas vidas?
Parte importante da liberdade é o direito de cada um ir para o “inferno” à sua maneira. O alimento de um pode ser o veneno do outro. Esta variabilidade humana nos impõe a necessidade da liberdade individual e da tolerância. Ninguém sabe qual o desejo do outro. Infelizmente, estamos vivendo cada vez mais sob a ditadura da maioria. O paraíso idealizado pelos “progressistas” seria um mundo com tudo reciclado, pessoas vestindo roupas iguais, comendo apenas alimentos orgânicos, e andando de bicicleta para cima e para baixo. Paradoxalmente, os “progressistas” odeiam o progresso!
É neste preocupante contexto que chegamos ao fim de mais uma década. Ao longo do processo, alguns indivíduos ousaram remar contra a maré, mesmo que não passassem de vozes isoladas em meio às multidões. Entre os brasileiros, tivemos figuras como Paulo Francis e Nelson Rodrigues, sempre lutando contra a imposição dos medíocres, derrubando os velhos chavões populistas. Seguindo esta tradição, o filósofo Luiz Felipe Pondé lançou novo livro, “Contra um mundo melhor”, que pode ser visto como um antídoto amargo a esta doença moderna.
A frase que abre o primeiro ensaio já dá o tom da obra: “Detesto a vida perfeita.” Pondé liga sua metralhadora giratória contra todas as mais nobres bandeiras politicamente corretas, desnudando-as e expondo sua hipocrisia. Numa época em que o homem é praticamente obrigado a ser “feliz”, ainda que seja à base de Prozac, os ataques mal-humorados de Pondé servem para alertar sobre os enormes perigos desta trajetória, tal como Huxley havia feito com seu “Admirável mundo novo”.
Que saibamos desconfiar mais da cruzada moral dos “progressistas” e sua retórica politicamente correta. São meus votos para 2011.
A patrulha do politicamente correto está tão intrincada que faz com que todos vigiem todos, e infelizmente, até de forma inconsciente. Então, não podemos falar. Mas o objetivo, mesmo, é que deixemos de pensar.
Subverto o dito famoso: existo, logo, penso! E enquanto existir território livre, ainda que seja vigiado pela patrulha, falarei. Quero o meu direito de ir para o inferno por minhas próprias virtudes, não pelos vícios de terceiros.
Já li outros textos seus. Você é muito inteligente. Porém, acho que a obsessão de combater a esquerda o faz, no mais das vezes, enxergar ideologia onde há mudanças de mentalidade gerada pela evolução do conhecimento. Se a ciência tem hoje muito mais informações sobre os malefícios do cigarro à saúde, por que não combatê-lo? É algo lógico, partindo de um princípio básico de valorização da saúde. Ter saúde é preferível a não tê-la. Todos os outros constrangimentos, como a obrigação de ser feliz, não guardam relação necessária com os “progressistas”. Talvez possamos nos aproximar mais de uma resposta se observarmos que pessoas dinâmicas (não necessariamente felizes, mas pelo menos não-depressivas) são mais produtivas economicamente. Viver em sociedade é sentir-se em algum momento coagido. Isso é um fato (social). A sensação que as “imposições” vêm apenas dos “medíocres” não passa, “infelizmente”, de um autoengano narcisista.
O politicamente correto é bom e correto. O problema é quem deseja o políticamente incorreto e ainda o aval da maioria.
Prezado Romero,
Sim, o cigarro faz mal. Assim como a fritura, a gordura, o ócio etc. Mas cada um deve ser totalmente livre para escolher coisas que fazem mal à saúde! E cada caso é um caso. Tem gente que fumou a vida toda e viveu mais (e melhor) que gente que nunca fumou ou bebeu. Quem sou eu para decidir pelo outro se ele prefere viver com mais risco e fumando ou todo recatado em prol da “saúde pública”? Não temos este poder! E só para lembrar, a ciência é bastante inexata, e cada nova pesquisa mostra resultados diferentes. Um dia o ovo é o vilão, no outro é aliado, dependendo da quantidade. O mesmo para o café, para o vinho, para o tomate etc. Creio que a liberdade individual está muito acima destas listas de vilões ou aliados da saúde.
Excelente, precisamos de mais e mais vozes como esta.
Parabéns pelo texto, uma ousadia no nosso mundo fascista. Você não tem medo de perder o emprego, né? 😉
Rodrigo, você foi genial!! Essa uniformização da opinião pública é terrível para uma democracia. Somos reféns de um código moral elaborado por pessoas preconceituosas. A politicamente correto é uma projeção das mazelas de uma sociedade que prefere não enfrentar as raízes dos problemas. Um grande abraço e feliz 2011, Pedro.
Não precisa ser individual para ser livre.O egoísmo,o consumismo é um reflexo da nossa sociedade de hoje.Vivemos numa didatura do politicamente correto,como também do consumo sem limites e da beleza ou culto ao corpo,onde o individo não estiver dentro daquele padrão em todos tem de estar de acordor com o momento.Vejam por si mesmo as propagandas de cerveja,quem encontrará ?Mulheres belas,magras,jovens e felizes da vida onde passa uma mensagem de quem não segue o padrão está fora da felicidade e por isso tem que se enquadrar.
Qualquer pessoa em sã consciência notará que esse mundo não serve para ele,e o individualismos e o primeiro “EU” será a melhor maneira de vive em mundo melhor.
Detesto patrulha ideologica.Não suporto o politicamente correto e ódeio a LEI DO GERSON,onde a frse nos diz que gosta de levar vantagem em tudo.
Caro rodrigo,não sou dono da verdade,esse mundo que você sugerindo não quero está nem de graça.Passe um dia naquelas comunidade bem carentes e verá mesmo com todas as privacidades como praticam a coletividade sem serem individualistas,mas,parece que não descerá nunca do “castelo” de vidro feito para ti.
INUTIL E TENDENCIOSO.É COMO SEMPRE A EXTREMA DIREITA BRADANDDO:QUE VENÇA O MAIS FORTE!OLHE O MUNDO ALEM DO SEU UMBIGO DE CLASSE MEDIA JOVEM!
Oh gente maravihosa, Constantino e Pondé.
Aguentem firme a cegueira reinante e entrem por 2011 com toda a lucidez que possuem sem ligar para a pressão dos cordeirinhos .
Parabéns Rodrigo, estou com você em cada parágrafo.
Basta da ditadura do politicamente correto , fluamos apenas sendo quem somos(sempre respeitando o próximo)e morrendo como queremos.
Direito total a liberdade e a vontande de ir e vir, não é asunto de discução, esta tecla já está mais do que batidA. A liberdade é inegociavél. Você desperdiça seu tempo e o nosso repetindo as mesmas coisas toda vez que escreve.
somos apartidarios, bandeiras e ideologias não significam nada,o metodo é nosso guia a razão é nossa alma.
O que não suportamos é tua visão de mundo não/ideal, teu pensamento individual lhe é garantido e respeitado por todos nós, no entanto teu dircusso impositivo se asemelha ao destes governos que nos obrigam a seguir suas cartilhas impositivas.
Quanto a cigarro, dar a crianças a liberdade de escolher se querem ou não fumar?
Permitir que pais e mães(familiaas que vivem abaixo da linha da probeza) tenham liberdade de escolher se querem ou não que seus filhos frequentem a escola ou arrecadem esmolas diariamente.
Rodrigo se não for a lei/estado, quem é que vai impedir toda essa juventude de entrar para as drogas, caso todas as drogas sejam liberadas para qualquer criança de qualquer idade?
Quem vai tirar milhões de crianças das ruas e do trabalho escravo e colocalas dentro de uma escola com direito a um prato de comida por dia, sabendo de todos os beneficios para a economia a logo prazo?
Se não for o estado e algumas de suas ideologias e imposições mediocres, quem é que vai colocar ordem na casa?o mercado?
Pare de ser tão extremo, nos parece que você nunca colocou os pés/viveu no suburbio, e conheceu o tanto de pessoas pobres e suas historias de sofrimento de dificuldade com todas as provações possiveis e imaginaveis
que passaram em suas vidas, infancia perdida, filhos perdidos e todos as demais calosidades da vida.
Você ainda é jovem, a tempo para mudar e refletir,não se tranforme num destes dinossauros que se descolam da realidade e tranformam as ultimas decadas de suas mediocres vidas em uma utopia individual.
Seja um capitalista responsavél e racional, lucros e mais lucros com responsabilidade.
pelos inovadores
Como se houvesse, o conceito de maiorias apenas no chamado pensamento de esquerda!! Esse fenômeno é de todas as doutrinas, independente da matiz ideológica, que buscam a uniformimdade de pensamento e idéias isso não é privilégio da esquerda meu caro!!
Os reformistas de direita; digo por que a direita jamais será progressista por que se assim fossem deixariam sê-la; alegam o conceito de controle da sociedade pelo Estado, esses mesmos que omitem que o estado é o mero instrumento de controle dos grupos dominantes com suas doutrinas que tentam legitimar seus valores e conceitos.
O problema não é o Estado meu caro, mas em que direção e para qual propósito ele atende os interesses da maioria dos cidadãos, coisa que é impossível de ser solucionado via mercado, isso já esta mais do que comprovado que ruim com a presença do Estado na vida do cidadão, seria o CAOS se o mesmo não existesse, principalmente hoje na esfera econômica onde os mercados foram corrompidos