O ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira acha que a economia brasileira não está, como muita gente acredita, tão bem assim. O país precisa se preocupar em combater a chamada “doença holandesa”.
Esse termo de refere ao enfraquecimento da indústria naquele país europeu a partir do momento em que a exportação de petróleo levou uma enxurrada de divisas para o país.
Em entrevista publicada na edição desta segunda-feira do “Brasil Econômico”, ele sugere que o governo use seu poder de tributar para conter a entrada de dólares no país. Segundo Bresser-Pereira, deveria ser criado um imposto adicional sobre a exportação de commodities – ou seja, soja e minério de ferro.
Talvez a solução para o problema não esteja na criação de um tributo (mais um na extensa lista de obrigações fiscais das empresas brasileiras).
Mas, ao sugerir uma medida como essa, ele aponta para um problema que, de fato, é crônico na economia do país – conforme se viu na semana passada quando o governo, mais uma vez, precisou comprar moeda estrangeira para evitar que o real se valorizasse ainda mais em relação ao dólar.
A principal consequência da entrada de divisas no mercado brasileiro (venha o dinheiro na forma de exportações de commodities ou de investimentos estrangeiros no Brasil) tem sido a prolongada valorização do real e a perda de competitividade da indústria.
Ótimo que um economista de respeito, como é o caso do ex-ministro, toque nesse tema com tanta clareza. Se existe algo que precisa ser feito com urgência é uma política industrial que, sem colocar em risco a abertura do mercado para os produtos importados, devolva à manufatura nacional a chance de disputar espaço com os artigos produzidos no Brasil e no exterior.
A questão, para Bresser-Pereira, se resume à política cambial – e à cotação da moeda brasileira em relação ao dólar, que é aproximadamente metade do que se pratica, em média, na Rússia, na Índia e na China, as outras economias que vivem momento de crescimento no mundo.
Esse problema, somado à redução das políticas de distribuição de renda poderá ter um impacto negativo sobre a produção.
Talvez haja, nesse caso, um certo exagero. Sobretudo porque, entra mês, sai mês, as estatísticas de emprego continuam em alta e os salários pesam cada vez mais na contabilidade das empresas.
Bresser-Pereira acha que isso se deve à redução das taxas de natalidade ocorrida duas décadas atrás que repercute hoje sob a forma de um número menor de jovens em busca de colocação do mercado.
É uma leitura, sem dúvida, original do fenômeno e o ex-ministro não deixa de ter razão ao enxergar a questão por esse ponto de vista. A verdade, porém, é que a taxa de emprego continua sendo um pilar importante de ativação do mercado interno.
O grande mérito da entrevista é estabelecer um contraponto lúcido à ideia de que a economia caminha sozinha para o crescimento. E que basta manter tudo como está para o país alcançar o estágio avançado pelo qual a sociedade espera há tantos anos.
O ex-ministro mostra que não é bem assim. E que não se pode baixar a guarda.
Fonte: Brasil Econômico, 27/02/2012
O que precisa ser feito com urgência neste pais não é uma política industrial apenas para disputa de mercado interno e externo. Mas…principalmente para aumentar o nível de emprego por aqui. É óbvio que tal fato deve estar implícito numa boa política industrial. Mas por que não priorizá-lo?
É o velho problema. Quando a ” industria nacional” perde competitividade logo gritam: é o câmbio! É o câmbio! E ficam jogando o jogo da velha, querendo comer a carne e tomar o leite da mesma vaca! O que eles querem é um câmbio ultra favorável para as exportações e muito difícil para os importadores!